112 anos de Luiz Gonzaga

28/12/2024

Kleyton Bandeira Cantor, compositor e pesquisador cultural

Kleyton Bandeira
Cantor, compositor e pesquisador cultural

A história que vou contar agora passou-se entre as décadas de 40 e 50 do século XX. E como é bom abrir o livro do passado.

Pois bem!

Mesmo a contragosto de Santana, sua mãe, desde os 8 anos de idade Luiz Gonzaga ajudava o pai, seu Januário, nos sambas para os lados do sertão pernambucano. Os sambas, tradicionalmente, começavam no início da noite e se estendiam até à madrugada. Então Luiz dormia no início da festa e quando ficava mais tarde ele assumia a sanfona enquanto seu pai descansava.

Luiz, sempre muito atento, observava, enquanto tocava, as reações das pessoas e, quando dava, escutava, também, as conversas. Sempre foi, dentro de sua sabedoria popular, pois não tinha estudo acadêmico, um visionário, e o sucesso sempre foi o seu foco.

Na ânsia de se tornar a figura folclórica que foi e entendendo o frenesi que os cangaceiros causavam nas pessoas, aquele misto de medo e admiração, então Luiz Gonzaga decide se vestir de couro dos pés à cabeça, enquanto participa de um evento no auditório da Rádio Borborema, em Campina Grande – PB. E não foi que a ideia do visionário Luiz deu certo.

– Olha, mãe, o Lampião! – Disse um menino atarantado.

Luiz, muito sagaz, responde imediatamente:

– Quem está aqui não é o rei do cangaço, mas sim o rei do baião.

Baião, que por sinal, era o gênero musical recém apresentado ao Brasil, de forma tão envolvente e didática, por Luiz Gonzaga e o iguatuense Humberto Teixeira.

“Eu vou mostrar pra vocês como se dança o baião

E quem quiser aprender é favor prestar atenção”

E foi por meio de Humberto Teixeira (apresentado a Luiz pelo seu cunhado Lauro Maia) que Luiz Gonzaga conseguiu cantar de verdade o Nordeste. Mesmo depois de sucessos como “Penerô Xerém”, “Cortando Pano”, “Xamego” e “Dezessete e setecentos”, parcerias com Miguel Lima, Luiz ainda sentia falta, nas letras, das farinhada, das vaquejadas, das feiras do sertão. E no primeiro encontro entre os dois o Velho Lua disse:

– Eu tenho um tema aqui pro senhor botar um letrinha: no meu pé de serra.

Na mesma hora Humberto colocou um papel sobre seus joelhões e escreveu uma letra.

Luiz ficou encantado e a música foi gravada.

Foi exatamente naquele momento que Humberto, então, desenvolve, uma temática que se tornaria recorrente na obra do Rei do Baião: a dor da saudade – lá no meu pé de serra / deixei ficar meu coração / ai que saudades tenho / eu vou voltar pro meu serão –, temperadas pelas lembranças dos tempos difíceis – no meu roçado eu trabalhava noite e dia / mas no meu rancho eu tinha tudo que queria – e momentos de pura alegria – sanfona não faltava / e tome xote a noite inteira – até chegar no refrão cheio de euforia e marcado por palmas:

“O xote é bom de se dançar

A gente gruda na cabocla sem soltar

Um passo lá, um outro cá

Enquanto o fole tá tocando, tá gemendo, tá chorando, tá fungando, reclamando sem parar…”

 

E foi assim que nasceu o grande hino nordestino “No meu pé de serra”.

No último dia 13, Luiz Gonzaga completou 112 de existência.

É bem verdade que a sua matéria já não está entre nós, mas a sua alegria e o seu legado permanecerão conosco até o fim dos tempos.

Bom final de semana e viva Luiz Gonzaga – o eterno Rei do Baião!

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