Natália Soares de Oliveira
(Assistente Social de formação, Feminista, ex-presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher – CMDM de Iguatu, Servidora Municipal, membra do Fórum Municipal de trabalhadoras/es do SUAS – FMTSUAS de Iguatu, militante da Consulta Popular)
Camila Machado Pinheiro
(Assistente Social de formação, Feminista, Conselheira Tutelar, Conselheira no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher – CMDM de Iguatu, Defensora Popular dos Direitos Humanos)
O patriarcado possui raízes sólidas e tem se consolidado como sistema de dominação da mulher desde as primeiras configurações de família, encontrando na exploração desta o suporte de que necessita para exercer e manter o poder de dominação e exploração do homem sobre a mulher. Processo esse que forneceu bases para a desigualdade entre os sexos que perduram até os dias atuais e podem ser evidenciadas através da opressão, exploração e violências cotidianas vivenciadas diariamente pelas mulheres no âmbito do sistema capitalista. Violências estas naturalizadas e perpetuadas que fortalecem a manutenção desse sistema patriarcal de gênero e corroboram para sua legitimidade social.
O papel socialmente construído da mulher dentro das relações familiares e na sociedade, de um modo geral, desde a colonização até os dias atuais, em termos de Brasil, demonstra que a família patriarcal foi (e continua sendo, mesmo com suas reconfigurações) algo central da nossa organização social. Assim, a violência contra mulher não se expressa somente através de agressões físicas e visíveis, mas nos mais simples e rotineiros costumes patriarcais que desde pequenas assimilamos como naturais.
O capitalismo, apesar de não criar o patriarcado, apropria-se de ideologias advindas deste e encontra solo fértil para manter sua ordem e garantir de forma ainda mais intensa a exploração das mulheres, exigindo delas jornadas de trabalho mais extensas e salários inferiores quando comparados aos salários dos homens, mesmo que muitas vezes exercendo as mesmas funções, acarretando na retirada e violação dos direitos da mulher.
O patriarcado se estabelece na sociedade via divisão sexual do trabalho e se fortaleceu transformando as diferenças em desigualdades, ampliando o domínio e exploração do homem sobre a mulher. Isto, embora, não tenha ocorrido de forma pacífica pelas mulheres, sem resistência e conflitos no decorrer do tempo e que viabilizaram, inclusive, inúmeros avanços com relação aos direitos da mulher, tem se consolidado como sistema de poder de um gênero sobre o outro e segue se reafirmado como categoria determinante do comportamento em sociedade, ao passo que, mesmo diante dos avanços nas discussões de gênero, pouco tem se rompido de fato com o sistema patriarcal. É importante perceber que os avanços conquistados, diante dos retrocessos evidenciados nos últimos anos em todos os segmentos das políticas públicas, encontram-se extremamente ameaçados e são insuficientes para alterar, de fato, as relações sociais de gênero e sexo.
Com a passagem do sistema feudal para o sistema capitalista, a sociedade passa a se dividir em classes sociais, onde há uma exploração econômica de uma sobre a outra. Para Cisne (2015, p.117), “essa divisão segmenta os trabalhos de homens e mulheres e hierarquiza tais trabalhos de forma a subalternizar os considerados naturalmente femininos em relação aos considerados naturalmente masculinos.”
Faz-se necessário compreender que a divisão sexual do trabalho é fruto de uma construção sócio histórica onde a mulher, historicamente e culturalmente, vem sendo subordinada a partir das relações patriarcais, desempenhando, desde sempre, papeis tidos como femininos perante a sociedade, em geral, voltados para a reprodução humana, a exemplo do trabalho doméstico. Saffioti (2011, p.35) confirma essa colação dizendo: “[…] elas são socializadas para desenvolver comportamentos dóceis, cordatos, apaziguadores”, como também a responsabilidade com o lar, o cuidado dos filhos(as), etc. A autora diz ainda que “os homens, ao contrário, são estimulados a desenvolver condutas agressivas, perigosas, que revelem força e coragem.”. Isto passou a ser naturalizado, e que nos faz compreender que ambos os papéis (tanto de mulheres como de homens) são resultado de um processo histórico de construção social.
Portanto, é necessário que nós mulheres consigamos identificar nossa condição na sociedade, nos identificarmos enquanto classe e nos empoderarmos através da luta coletiva por nossos direitos e pelo fim dessa sociedade de gênero machista e patriarcal. Que juntas, e em nossas formas mais diversas de existência, consigamos nos reconhecer umas nas lutas das outras e avançar na conquista e garantia de direitos, buscando romper definitivamente com a desigualdade de gênero e as violências próprias desse sistema de dominação e exploração, e compreender que só, e somente só assim, poderemos construir o caminho rumo à nossa verdadeira emancipação quanto mulher.
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