Ao longo de quase todo o século XX Iguatu não teve “coleta sistemática de lixo”, assim parece indicar as matérias do jornal Novo Iguatu.
Houve iniciativas pontuais e/ou que não foram bem sucedidas. Mas os anos de 1989 e 1990 parecem ter reunido novos esforços na tentativa de solucionar o que fazer com o lixo que os iguatuenses produzem.
Com uma população total de 76.649 habitantes, de acordo com o censo demográfico realizado em 1991, Iguatu acumulava aproximadamente “25 mil quilos de lixo, uma média de meio quilo para cada habitante” (Novo Iguatu, ed. 1, de 1 de junho de 1989, p.5) – numa época em que ainda não se debatia sobre hiperconsumismo.
Dentre as ações descritas no jornal, encontram-se: 1) os esforços para limpar toneladas de lixos das ruas, que se acumulavam por dias, gerando mau cheiro e doenças, num cenário “desolador”; 2) a realização do mutirão “Cidade Limpa”, que contou com a ajuda da pá mecânica da RFFSSA, caminhões cedidos por particulares e apoio da população; 3) além do que fazer com o lixo e onde despejá-lo e; 4) da criação da “coleta sistemática de lixo”. A charge que ilustrou a matéria intitulada “Bairros e ruas limpas, destaque até agora” (idem), do referido jornal e edição, assinada por Valmir e aqui destacada, parece ilustrar bem o ar de novidade.
Chama atenção ainda os comentários do então prefeito e médico Hildernando José Bezerra Moreira, da gestão “Levando a Sério”, que acredita no potencial econômico do lixo, por meio da reciclagem.
Assim, segue trecho da matéria, publicada no referido jornal, de aberto apoio e divulgação dos feitos da gestão:
“Hoje, o aterro sanitário está localizado às margens da rodovia para o vizinho município de Jucás, aproveitando-se enormes valas, oriundas do processo de erosão. “Temos que partir para o reaproveitamento econômico do lixo, através de uma usina de reciclagem e compostagem” – disse o arquiteto Paulo César Barreto, diretor do Departamento de Controle Urbano. “Esta é a saída definitiva”.
Quem também pensa assim, é o prefeito. “Lixo hoje dá dinheiro e esperamos que uma empresa privada encampe a idéia de reciclar os detritos domésticos” – informou. Os custos para implantação de uma usina de reciclagem estão em torno de NCz$ 120 mil, com capacidade de processamento de cinco a seis toneladas diárias. “A usina pode até ser instalada na própria área central da cidade” – revelou Paulo César.
Encarregado dos trabalhos de fiscalização e companhamento da limpeza pública, trabalha a dupla Luis Océlio, Diretor de Obras, e o conhecido Vicente Paraibana, Chefe de Divisão de Limpeza Pública. Eles, diretamente, estão responsáveis por todos os serviços de limpeza e sua manutenção. “O nosso objetivo é manter a cidade totalmente limpa” – disse Luis Océlio. “Trabalhamos mais de 16 horas por dia para esse fim”.
Sem dúvida, a cidade está limpa. E o reconhecimento vem da própria comunidade. […] “A cidade parece que sofreu uma nova roupagem. Está com aspecto agradável” – comentou o comerciante Expedito Silva. “Por onde a gente anda, sente a diferença” – disse Margarete Lima, estudante do 2º grau, na rede estadual de ensino. “Espero que o Prefeito mantenha a limpeza”.”
Já no ano seguinte, na edição de número 3, de janeiro de 1990 (p.4-5), em matéria intitulada “Destaque para a recuperação e construção de obras comunitárias”, o jornal chama atenção para os diversos serviços de limpeza e recuperação que a gestão “Levando a Sério” vem realizando. Como é possível de observar no trecho abaixo:
“A Secretaria de Obras e Urbanismo da administração Iguatu Levando a Sério desenvolveu um ritmo acelerado nos serviços de limpeza da cidade, recuperação de equipamentos públicos e construiu obras de caráter comunitário e social. Entre elas, podemos citar: Casas de Farinha Comunitária, nos sítios Gadelha e Córrego, Posto de Bombeiros, Cantina para o Colégio Municipal Padre Januário Campos, dezenas de calçamentos em pequenas vilas e travessas, visando à melhoria de condições de vida da população de baixa renda, abertura de novas ruas, entre outros serviços. O destaque foi a construção de 57 unidades habitacionais, no bairro da Chapadinha e no Conjunto João Paulo II, destinadas aos desabrigados da cheia de abril passado. Agora, uma outra obra relevante já começou. A edificação do Centro de Convivência do Idoso, em área destinada à antiga LIPI, Liga Iguatuense de proteção ao Idoso. A obra é em convênio com a Secretaria de Ação Social do Estado, Pronav e LBA.”
Para Iguatu, esse é ainda um problema em aberto, que hoje fica exposto em um dos pontos mais altos, instagramando a cidade. Mas, como as matérias bem observaram, nosso lixo já ocupou outros lugares da cidade, como no caso das “valas” próximas da rodovia de saída para o município de Jucás. Ou ainda, nas margens da estrada que “dá acesso ao distrito de Suassurana. Mas, com os elevados índices de precipitações, o local teve que ser interditado, porquanto estava causando problemas de poluição aos moradores próximos” (ed.1, de junho de 1989, p.5).
Não é novidade que sua localização atual também causa danos à saúde da população, que respira as toxinas emitidas pela combustão do lixo, trazida pelos ventos diretamente para o centro da cidade. E os recentes movimentos na tentativa de construir um aterro sanitário também se mostraram impróprios em virtude do impacto ambiental que causaria.
Assim, permanece a pergunta: o que fazer com o lixo produzido pelos iguatuenses, que atualmente deve ser o quádruplo da estimativa de 1989?
Apesar dessa problemática é preciso enfatizar ainda a importância que foi(é) a implementação da “coleta sistemática de lixo”. As fontes históricas que utilizei na matéria da quinzena passada, e hoje, relataram acúmulos de lixo nas ruas, doenças e maus cheiros que, de tempos em tempos, recebia alguma atenção e se organizava um mutirão de limpeza. Mas com a implantação da “coleta sistemática de lixo”, a cidade pode se manter limpa. Se em 1989 essa implementação era tão necessária, imagine hoje que somos tão dependentes da coleta de lixo?
A análise desses vestígios históricos pode, ao menos, nos lembrar das tentativas e erros já cometidos no passado a fim de buscar outras e novas soluções. E mais: nos possibilita perceber que debates como o da “compostagem”, “usina de reciclagem” ou “lixo hoje dá dinheiro” sobrevivem como possibilidades ainda pouco exploradas.
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