No próximo dia 26 de novembro completam os 25 anos da partida inesperada do então prefeito Roberto Costa. Naquela fatídica madrugada de um sábado, 26/11 de 1994, saía da cena pública um dos políticos mais carismáticos da história político-administrativa de Iguatu.
Nesta edição o jornal A Praça refaz, com a ajuda de amigos, os últimos passos do líder político, naquele seu último dia de vida em Iguatu, desde as primeiras horas da manhã, até o acidente automobilístico que o vitimou, na rodovia Manoel Matias Costa. Ironia do destino, a estrada onde ele viveu seus últimos momentos, leva o nome de seu pai.
Aos 51 anos de idade, Roberto Costa estava no ápice de sua tão breve vida pública. Havia renunciado ao mandato de deputado estadual, quando tinha sido eleito em 1990, para assumir os destinos do município. Eleito prefeito na histórica campanha de 1992, tomou posse como gestor em 1º de janeiro de 1993. Governou por um ano e 11 meses e se despediu vitimado num acidente de carro na estrada que liga a CE-060 ao distrito de Suassurana. Estava voltando para casa, no sítio Varzinha, onde morava com a esposa Rossana e os filhos, Kamille Costa, Manuela Costa e Roberto Filho, quando foi tragado numa curva.
Da safra de gestores eleitos para o mandato 1993/1996, Roberto Costa, de Iguatu, era um dos que gozava dos mais altos índices de popularidade. Era aclamado pelo povo aonde chegava. Seu nome circulava até nos bastidores do cenário político estadual, como uma peça importante para ajudar a montar o quebra-cabeças da sucessão estadual que ocorreria em 1998. Era amigo pessoal do então governador Ciro Gomes e do ex-governador Tasso Jereissati, que havia sido eleito novamente governador, para a gestão 1995/1998. Tasso, amigo pessoal de Roberto, abalado com a morte prematura de um dos mais brilhantes políticos do Ceará, veio a Iguatu para compartilhar da dor aguda da família e dos iguatuenses.
Naquela noite de 25 de novembro, uma sexta-feira, Roberto Costa participou da FENERCSUL-Feira de Negócios da Região Centro-Sul, que acontecia no CRI-Clube Recreativo Iguatuense, em seguida foi jantar com amigos no extinto restaurante Walter’s Comidas Típicas, que ficava em frente ao Terminal Rodoviário, onde hoje funciona a empresa Pneus Canteiros. Dali saiu para o restaurante do BNB, em seguida foi para a casa do irmão Edilmo Costa, na Rua Cel. Mendonça, onde deveria dormir, mas ao lembrar que o filho, Roberto Costa Filho estava sozinho em casa no sítio Varzinha, mudou os planos e foi para lá, mas não conseguiu completar o trajeto.
Calibre humanitário
O professor Álder Teixeira, na época vereador, fazia parte da bancada de sustentação ao prefeito Roberto Costa na Câmara Municipal. Foi uma das pessoas que esteve com Roberto horas antes do acidente que o vitimou fatalmente. Álder contou que naquela noite de 25 de novembro encontrou o primo e amigo no restaurante do BNB, já por volta das 23h. Era o período que antecedia a eleição da mesa diretora do legislativo iguatuense e, segundo Álder, Roberto estava empenhado na sua eleição para presidente da casa. Álder ainda recorda uma última frase do prefeito numa breve conversa, com ele. “Ei professor, tá complicado, mas nós vamos reverter esses obstáculos e você vai ser presidente da Câmara”. Álder lembrou que Roberto ficou mais alguns minutos com ele, depois se dirigiu a outra mesa”. Nem Álder nem Roberto Costa sequer imaginavam que seria aquele o último encontro, último diálogo, último momento entre ambos. “Foram dias muito difíceis para todos nós, Roberto era uma pessoa diferenciada, ele tinha um calibre humanitário, um perfil político extremamente correto, democrático, era um homem que enxergava a atividade política como um sentimento muito positivo; Roberto se opunha a fazer inimigos na política”.
Ouça o depoimento de Álder Teixeira
Roberto Costa trafegava guiando um automóvel Monza-94. O carro era um presente para a filha mais velha, Kamille. O plano dele era viajar na manhã do sábado, 26 para Fortaleza para presentear a filha. A causa mais provável do acidente é que ele tenha cochilado ao volante, o que o fez perder o controle da direção e o carro desceu um barranco numa curva a poucos quilômetros de casa causando sua morte por asfixia, uma vez que o veículo o arremessou para fora e ficou por cima dele.
Outros amigos que estiveram com ele naquelas últimas horas de sua vida disseram que ele estava feliz, sorridente como sempre, cheio de vida, carregado de entusiasmo e planos. Queria concluir o mandato de prefeito e entregar ao povo um Iguatu desenvolvido e com mais qualidade de vida para sua gente, principalmente os mais pobres. Mas seus sonhos foram interrompidos de maneira trágica e inesperada.
A morte de Roberto Costa ainda hoje é lembrada no meio político do Estado do Ceará. Sua partida mudou os rumos da política local e deu um novo traçado às gestões que se sucederam ao longo desses 25 anos. Sua maneira arrojada de governar, seu carisma emblemático e sua forma simples de dar soluções aos problemas reclamados pela população ficaram nos anais da história político-administrativa do município como uma assinatura carimbando uma página escrita em um novo capítulo da gestão pública.
Um homem público que amava fazer política. Respeitava seus oponentes, sentava com todos à mesa, não escolhia seus pares pela classe social, ou condição econômica, era amigo de todos e para ele, o tempo mais precioso era estar no meio do povo.
Aliados e adversários
Elpídio Cavalcante, 76 disputou com Roberto Costa a histórica eleição de 1982 para prefeito de Iguatu. Roberto era candidato da situação apoiado pelo então prefeito João Elmo Moreno (saudosa memória). Naquela campanha, Elpídio, que era candidato pela oposição, saiu vitorioso surpreendendo até mesmo os mais experientes analistas da política local. Elpídio fala de Roberto com saudade. “Fizemos política, disputamos eleição, mas nunca deixamos a política nos dividir, nem afetar nossa amizade”, lembrou.
O médico Hildernando Bezerra, prefeito de Iguatu por duas vezes, e deputado estadual, foi quem indicou e apoiou o nome de Roberto Costa para a campanha de 1992, quando ele foi eleito. Do amigo e aliado político, Hildernando guarda as boas lembranças de um homem público como poucos. “Roberto Costa era um “figuraço”. Boa praça, bom caráter. Político, tinha qualidades raras: sincero, leal, amigo. Era um sonhador, um visionário. Quando prefeito de Iguatu, sonhava com grandes projetos. Queria um Iguatu grandioso. Pena que tenha ido tão breve. 25 anos… mas a lembrança parece ontem.”
Marcelo Sobreira fez política com Roberto e foi eleito vice-prefeito com ele em 1992. “Roberto Costa foi um ícone na política de Iguatu. Político amigo, independente da sua posição política. Iniciei na vida pública com Roberto, Elmo e Hildernando, porque meu pai já era seu seguidor. E tive a honra de ser seu vice-prefeito em uma eleição vitoriosa. Período de respeito aos adversários, tempo de projetos, tempo de fazer amigos. Roberto Costa, um amigo que tinha amigos de qualquer ala política, e que respeitava as diferentes divergências. Um modo diferente de fazer política. 25 anos de saudades”.
Esposa e mãe dos três filhos
Rossana Coelho Costa era a primeira-dama de Iguatu, casada com Roberto Costa. O casal teve três filhos, Roberto Filho, Kamille e Manuela. As memórias dela vão além do homem público. Ela conhecia também um Roberto Costa esposo, pai e amigo. Foi acordada pela mãe, no final daquela madrugada de 26 de novembro com a impactante notícia. Ela ligou para Cláudio Vieira de Paula, que trabalhava com Roberto, mas este, mesmo no auge da consternação, tentou minimizar a notícia. Mas Rossana, ao fazer uma ligação para a Rádio Jornal, ficou sabendo da real notícia do acidente e da morte do marido. “Não gosto nem de lembrar. O tempo é o senhor de tudo e é ele quem determina o caráter de uma pessoa. Vinte e cinco anos se passaram e Roberto permanece presente no coração de muitos dos iguatuenses. Seu legado foi de um homem amigo, um homem generoso, um homem alegre, um homem forte, um homem humilde, um homem solidário, um homem de atitude, um homem empreendedor, um homem trabalhador e acima de tudo um homem agregador. Que amargurante perdermos esse grande homem. Para mim e meus filhos, uma perda inenarrável, mas a certeza de termos sido pessoas privilegiadas por tê-lo tido como pai e marido”.
Ouça o depoimento de Rossana Coelho Costa
Irmão e sucessor político
Edilmo Costa, um dos cinco irmãos, tinha com Roberto Costa uma ligação muito forte. A amizade, o amor, carinho e afeto entre eles ultrapassava os laços de família. Eram amigos, compartilhavam sonhos e se completavam harmonicamente. Edilmo foi escolhido pelo povo para dar continuidade ao projeto político do irmão em Iguatu. Foi eleito prefeito e governou entre 2001 a 2004. “Roberto foi muito mais do que um irmão para mim, ele foi o maior companheiro e amigo que tive na vida! Apesar de ser um ano e meio mais velho, começamos juntos os nossos estudos no antigo Grupo Escolar, hoje Carlos de Gouveia. Depois fomos estudar em Recife onde concluímos naquela época o curso ginasial. Daí para Fortaleza onde terminamos o científico, hoje ensino médio, fomos aprovados no vestibular de Agronomia. Sempre juntos, nos formamos em dezembro de 1966 e em seguida viemos para Iguatu onde o nosso pai se dedicava à agropecuária principalmente a produção e beneficiamento de algodão. Em Iguatu nos associamos logo em 1967 ao Rotary Club do qual o nosso pai já fazia parte. Foi aí neste clube de serviço que Roberto revelou a sua preocupação com a melhoria de vida da comunidade iguatuense tendo se destacado nas exposições agropecuárias das quais foi presidente por 12 anos. Ingressou também na mesma época na Associação Comercial, da qual foi diretor. Em seguida, foi guinado à presidência de uma entidade existente àquela época, o Conselho de Desenvolvimento Comunitário de Iguatu. Essas atividades mostraram-lhe a necessidade de se aproximar mais do povo e o caminho teria que ser através da política, assim candidatou-se a vereador tendo sido o segundo mais votado. A sua atuação na Câmara Municipal o credenciou a ser o vice-prefeito do também saudoso Elmo Moreno quando Iguatu deu um salto no seu desenvolvimento. A sua competência e o seu dinamismo transpuseram o limite de Iguatu e o governador do Estado convidou-o para a presidência da Companhia de Desenvolvimento Agropecuário do Ceará, a CODAGRO, empresa de desenvolvimento que possuía postos em quase todos os municípios do Estado. Ele exerceu o cargo por mais de quatro anos em Fortaleza sem no entanto nunca se afastar de sua gente, vindo a Iguatu semanalmente num trabalho permanente por sua terra quer através deste órgão que dirigia quer por interferência noutros escalões do governo. Em seguida Roberto foi eleito deputado estadual honrando na Assembleia o compromisso assumido de representar com fidelidade e convicção as aspirações e as crenças daqueles que confiando nele sempre encontraram a voz da necessária prudência e a voz da coragem e da energia quando estas se impunham. Daí aceitou o desafio, candidatou-se atendendo o chamamento das ruas através da pesquisa e foi eleito prefeito em 1992. O resultado, todos conhecem, foi a implantação do que sempre teve Iguatu em primeiro lugar como marcou a denominação do seu governo – IGUATU ACIMA DE TUDO! O destino cruel, entretanto, impediu que ele concluísse o seu maior trabalho e grande sonho retirando-o não só da política mas da própria vida. A dor da sua ausência depois de 25 anos ainda dói muito e só é amenizada quando me convenço que pela sua bondade, pelo bem que fez a tanta gente e o amor que disseminou está num lugar de muita paz nos esperando”.
Primo e amigo nos últimos passos
Naquela sexta-feira, 25 de novembro, Roberto Costa passou o dia com Emídio Teixeira. O próprio Emídio relatou que Roberto chegou a sua casa por volta das 05h da manhã. Lá ficou até por volta das 14h, onde tratou de questões relacionadas à gestão e seus projetos para Iguatu. Cláudio Vieira de Paula, secretário da prefeitura, estava junto. Cláudio e Emídio vivenciaram as últimas horas e acompanharam os últimos passos de Roberto. Emídio contou que de sua casa Roberto ainda esteve na prefeitura onde despachou, e de lá seguiu para a FENERCSUL. Depois da FENERCSUL, Roberto foi para o Walter’s e em seguida para o BNB. Foi do restaurante do BNB que Emídio seguiu o primo até a casa do irmão Edilmo Costa. “Fiquei a distância e só saí quando vi ele sair do carro e entrar na casa”, relatou Emídio.
Ouça o depoimento de Emídio Teixeira
0 comentários