Hugo Porto Soares
Nesta segunda-feira, dia 06 de janeiro de 2020, transcorreu o cinquentenário do falecimento de meu tio-avô Manoel Carlos de Gouvêa.
Nascido em 25 de dezembro de 1891 em Aracaju, Sergipe, veio residir em Fortaleza no ano seguinte, acompanhando seus pais, meus bisavós paternos, Ricardo Viviano de Gouvêa e Clotilde Soares de Gouvêa.
Formou-se em Medicina em 1918, pela gloriosa Faculdade de Medicina da Bahia. Em 01 de setembro de 1920, instalou-se em Iguatu, cidade do Centro-Sul cearense, onde, por 50 anos, fez do seu trabalho um exercício cotidiano da mais intensa e generosa caridade.
Liderou a construção, em um extraordinário esforço, do Hospital Santo Antônio dos Pobres, cuja pedra fundamental foi lançada em 13 de junho de 1924.
Foi Prefeito de Iguatu por quatro vezes. E deputado estadual na Assembleia Constituinte de 1946.
Morreu pobre, e jamais se aproveitou, de recursos públicos, a qualquer título e em qualquer circunstância.
Foi casado com Rosa Gouvêa, sua prima, filha de seus tios João e Matilde, na casa de quem residiu quando estudante em Salvador. Ela, apesar de sete anos mais velha, a ele sobreviveu por quase quatro anos, em estado de demência senil mesmo antes de falecer-lhe o marido.
Então com 15 anos, acompanhei meu saudosíssimo pai a Iguatu para mais uma vez visitá-lo. Ali chegamos na noite do dia 03 de janeiro. Já o encontramos bastante combalido, sofrendo as agruras do enfisema pulmonar que o levaria à morte, aos 78 anos.
Lembro-me que na noite de 04 de janeiro, domingo, assistimos, na sala de jantar de sua modesta residência, ao Programa J. Silvestre, onde uma candidata respondia sobre J. S. Bach. Aquele foi o último programa em que concorria a enfim vitoriosa candidata.
Seu falecimento ocorreu aos cinco minutos da madrugada do dia 06, terça-feira. Não tenho palavras para descrever a densa massa popular que se formou defronte à sua residência e ruas adjacentes. Pessoas não só de Iguatu, mas de diversas regiões do Ceará ali estiveram para prestar-lhe as últimas homenagens. À tarde, seu corpo foi levado para o Hospital Santo Antônio dos Pobres, onde foi celebrada uma missa. Dali, já iniciada a noite, foi transportado para o Cemitério de Iguatu, onde foi sepultado.
A Rádio Iracema, então a única emissora da cidade, mudou toda a sua programação, e passou a executar música orquestrada solene, interrompendo a programação somente para a leitura de diversas manifestações de políticos e populares.
Registro a imensa dor sofrida por meu pai. Sua relação afetuosíssima com tio Nozinho (assim o tratávamos no ambiente familiar) era a de pai e filho. Dois temperamentos distintos, mas inteiramente convergentes na bondade que cada um trazia em seu coração. Papai, ao abraçar mamãe, que viera para o enterro, chorou copiosamente, como eu jamais vira, ele já na proximidade de seus 53 anos. Em novembro de 1969, a menos de dois meses de seu falecimento, tio Nozinho passara uma semana conosco, em nossa residência de Fortaleza, à avenida Padre Antônio Tomás.
Não estou a localizar, neste momento, as belas orações que proferiu em Iguatu, quando dos festejos de centenário de nascimento do Dr. Gouvêa.
Presto, por estas singelas linhas, a mais sincera e comovida homenagem à sua memória, que reverencio com admiração e saudade.
Que seu boníssimo espírito descanse em eterna paz.
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