Arquiteto de práticas inconfessáveis na Lava Jato, que vão do famigerado uso de PowerPoint no intento de desconstruir a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante investigações mais tarde desmentidas em diferentes instâncias, a exemplo do que se viu ontem no TRF-1, em Brasília, a benefícios ilegais junto a empresas não identificadas para as quais proferiu palestras que lhe renderam valores incompatíveis com a natureza do serviço prestado, o procurador Deltan Dallagnol anunciou, nessa terça-feira, estar deixando o grupo de investigadores da operação.
Em 2019, para se ter uma ideia dos malfeitos do senhor Dallagnol, o procurador chegou a anunciar a criação de uma fundação privada, a ser gerenciada por ele e demais procuradores da Lava Jato, cujos recursos, oriundos de acordo firmado junto à Petrobrás, iam para além dos R$ 2,5 bilhões. Tudo, é bom lembrar, pensado às escuras, sem qualquer discussão que envolvesse quem quer que fosse se não os próprios idealizadores da tal fundação. O acordo, como se sabe, foi anulado pelo STF, tão imorais eram as motivações com que Dallagnol e sua equipe procuraram justificá-lo.
O pior em torno da atuação de Deltan Dallagnol nas investigações da Lava Jato, contudo, foi revelado em junho de 2019. Como se poderia ver com a publicação de reportagens do site The Intercept Brasil, o então chefe dos procuradores da força-tarefa, à revelia do que estabelece a lei, vinha mantendo, durante as investigações, conversas com o juiz Sergio Moro, numa prática vergonhosa de ajustes, subtrações e acréscimos de elementos que tinham por objetivo destruir o Partido dos Trabalhadores e sua maior estrela, o ex-presidente Lula, afastando-o, pelos meios ilícitos, das eleições de 2018. O resultado disso, como se sabe, seria decisivo para a eleição de Jair Bolsonaro, que pouco depois indicaria Sergio Moro para o Ministério da Justiça.
As publicações do The Intercept Brasil ainda trariam a público outras práticas inconfessáveis do então procurador: em 2016, após o ministro Dias Toffoli, do STF, ser visto pelos procuradores como entrave para os objetivos perseguidos pela Lava Jato, Dallagnol ainda determinou que o investigassem sigilosamente. O caso acabaria vazando e os procuradores expostos à execração pelos ministros do Supremo.
Sua saída da força-tarefa sediada em Curitiba, somada aos desgastes do ex-juiz Sergio Moro, cujas artimanhas como ministro da Justiça tinham por objetivo viabilizar sua indicação para o STF, mas acabariam fracassando, marca com indesejado simbolismo o fim do que se considerou por muito tempo uma panaceia contra a tragédia moral que toma conta do país. Considerando-se, todavia, o que quase sempre esteve por trás de sua prestigiada chefia da Lava Jato, o senhor Daltan Dallagnol vai tarde, muito tarde.
P.S. A decisão do TRF-1 em favor do ex-presidente Lula, nessa terça-feira, na sequência de outros desmentidos de acusações contra ele assacadas, contribui para evidenciar que a força-tarefa de Curitiba o tinha como a cereja do bolo. Esse, diga-se em tempo, é o quinto processo contra Lula arquivado fora da chefia de Deltan Dallagnol.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
0 comentários