Cauby Fernandes*
“[…] Eu não tenho paciência de ser preso”, dizia, incessantes vezes, o futuro suicida no conto “O Preso”, do excepcional Moreira Campos (1914 -1994). Não ter paciência é, antes de tudo, uma qualidade humana. A ausência de paciência é, grosso modo, um sinal de alerta ante uma situação de extrema pressão sofrida pela nossa mente ou corpo – ou ambos. Trata-se de uma defesa natural para evitar que adoeçamos ou soframos o mal-estar de uma circunstância tediosa, lastimável, angustiante etc.
Eu, por exemplo, não tenho paciência para as trivialidades e vulgaridades da nossa contemporaneidade. Não tenho tido paciência para a auto-bajulação dessa gente narcisista; para essa nossa infundada lógica de sermos bons e merecedores de um galardão – seja ele qual for. Customizam Deus para, assim, ignorar suas fragilidades e legitimar suas vaidades e modo de vida questionavelmente torpe; duvidoso.
Paciência, nesse caso que proponho, que sugestiono, não é virtude; é exatamente o oposto: é defeito – e dos piores! Não ter paciência, eis a qualidade dos que não se permitem embarcar nessa linha tênue entre a sanidade e a insanidade do homem moderno.
Obviamente, como o leitor deva supor, virão alguns desentendimentos e más interpretações por parte daqueles que nos encontra o epíteto de arrogante. Arrogância, para eles, é tudo o que não suportamos no outro (nesse caso, neles). Ou seja, se acatamos toda sorte de estultícias dessa geração sedenta por atenção, somos benevolentes e respeitadores da “diversidade da vida colorida”; no caso contrário – o da nossa irredutível impaciência e estranheza ao outro – somos, no mínimo, como dito, arrogantes – e, não esqueçamos, preconceituosos.
Não. Simplesmente, não tenho tido paciência para os emuladores de fralda e barba. Um homem aprende muito mais na solidão do seu quarto, com um bom livro, uma boa canção e bebida, do que com os chatos e chatas de plantão. A minha vó, que é analfabeta, é mais sábia e “macho” do que muitos “cultos de chavões” que conheço. Paciência para com estes, senhor, é um desrespeito consigo mesmo; não cometa tal crime. O desprezo é o bem proceder para com os que pensam mudar o mundo com textos teóricos lindos, mas que, ao saírem papel, não passam de piadas – levadas a sério apenas pelos anômalos pacientes. Ter paciência? Não! Também não tenho paciência de ser preso no mundo dessa gente! Livre, avesso e alheio, sempre!
*Contista, cronista, desenhista e estudante universitário.
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