Filhos da Ganância
O grande poeta Manuel Bandeira finaliza o instigante poema Poética, com essa provocação: – Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. Foi inspirado nesse clima que compus meu poema Pedido:
Filhos da ganância
Devastadores do planeta
Surdos aos que cuidados pedem
Vão destruindo cegamente
Tudo o que puderem
Extraindo o que quiserem
Hoje faço-lhes um pedido:
Deixem ao menos
Os sonhos
As quimeras
As flores
As mulheres.
Mentirosos – O Messias expulsou os vendilhões do templo. Quem expulsará os mercenários vendilhões da Pátria Amada?
Mudando de conversa – O silêncio da saudade é maior que o das catedrais e o de todas as bibliotecas celestiais.
Um ser apaixonado visualiza, até no céu da boca da amada, um manto estrelado.
Durmo de óculos para te enxergar melhor nos meus sonhos.
Provocações – Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão e a sogra.
A vida não passa de um constante dobrar de esquinas, sem nada sabermos o que tem do outro lado. A única certeza é que, numa dessas voltas, retornaremos a algum ponto, ainda indefinido, rodeado de ficções, metáforas e mentiras.
A vida é, também, silêncio. O barulho é invenção do homem e da mulher, filhos ingratos da natureza. E tudo começou com seus grunhidos e falas. Logo, criaram as falácias, que cultivam até hoje, em suas tecnologias viciantes e aprisionadoras.
A solidariedade silenciosa é exercida quando praticamos a escuta do outro, devidamente necessária, sem a pressa de nossas sugestões, conselhos e brilhantes ideias, geralmente, carcomidas pelo tempo.
Certa vez, alguém desabafou: “Até com promessas as graças estão difíceis de alcançar. A gente só falta se acabar de chorar e pedir, mas o Santo não atende. É por causa da ruindade das pessoas. A gente morre de implorar e nada alcança”. Acho que Deus teria pensado: “Esses meus filhos são muito ingratos. Querem tudo… Num instante souberam criar o Muro das Lamentações, mas até hoje esqueceram de erguer o Muro dos Agradecimentos”.
A palavra que está sendo banida, gradativamente, da mente e da prática diária das pessoas, nesse século tão jovem e tão assustador, é Gratidão. A ruína do respeito pelo outro e o esquecimento de nossa interdependência, desde o nascimento, será a marca do futuro que nos aguarda. O tão decantado Amor, última fronteira da humanidade, vê-se arrastado, tenebrosamente, por fortes ondas de ódio.
Enquanto isso: “…Quero não ferir meu semelhante/Nem por isso quero me ferir”.
0 comentários