Eis que chegamos ao novo 2020. Não, você não leu incorretamente. Usei de um artifício de retórica para destacar o que me parece uma obviedade: o ano que começa, infelizmente, tende a ser uma repetição perversa de 2020, pelo menos no que depender de ações do Estado contra a pandemia (passamos dos 200 mil mortos), a violência sem freios e o desemprego que pode se aproximar dos vinte milhões de brasileiros, aí incluídos os que apenas se viram com ‘bicos’ para sobreviver, uma vez que o auxílio emergencial parece mesmo com os dias contados.
Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro dá continuidade ao festival de asneiras com que, taticamente, vai desviando a atenção de grande parte dos brasileiros para o que é a mais irrefutável realidade: despreparado para o cargo a que a insensatez coletiva o conduziu, e baseando seu governo no que existe de mais abominável ética e racionalmente falando, Bolsonaro empurra o país para o fundo do poço.
Esta semana, bem ou mal fundamentado o seu discurso em números da falta de projeto do ministro Paulo Guedes, não mediu palavras: – “O Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada”.
Se a declaração apocalíptica, na primeira oração da frase, condiz ou não com a situação concreta da pasta da Economia, no mínimo preocupa; na segunda reflete um lapso de consciência que dá a ver a sua nulidade como presidente. Incapaz de enfrentar os desafios que tem pela frente, Bolsonaro parece finalmente reconhecer o desastre a que levou o país.
Eis que chegamos a 2020, insisto.
Não bastasse o que é a realidade brasileira hoje, começa o novo ano como a nos advertir que a única saída, a eleição de um candidato de oposição ao atual governo em 2022, anuncia-se improvável: a insurreição estimulada contra a democracia americana por Donald Trump, na tentativa de impedir o fim de seu governo criminoso, legitimamente posto por terra na eleição de novembro nos EUA, tem inequívocos reflexos no Brasil. É o próprio presidente Bolsonaro quem o diz, sem meias-palavras: – “Pode acontecer o mesmo aqui, por que não?”
Com a palavra o STF, o Congresso Nacional, os partidos de esquerda, a sociedade civil, os que amam a liberdade e o estado de Direito, entendendo-se por isso o que de fato significa: respeito às normas e aos direitos fundamentais.
Se nada for feito, será tragédia anunciada!
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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