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16/01/2021

No dia 23 deste mês completam-se dois anos da morte do melhor dos amigos; um irmão de alma. A você, VELHO AIRTON, este nosso poema simbolista.

 

                 SPECTRA

Foi o vento… foi o vento noturno…

O vento brincalhão das horas mortas…

Quem revirou as imagens dos santos;

O mesmo vento que abre e fecha as portas.

 

Quem revirou as imagens dos santos?

Quem vê? No cemitério a noite é escura.

Talvez um cão doente. Anjos ao chão…

Flores pisadas… vultos da Amargura!

 

Não há passos nem rastros. Só a distância

Que o semblante dos mortos insinua.

Da luminária o vidro foi quebrado;

Quem andou por aqui à luz da lua?!

 

Sinos ouviram-se, os portões rangeram,

Como se por alguém que era esperado.

Mas as Sombras navegam em silêncio…

Rezas sozinho. Ninguém ao teu lado!

 

Quando a flor morre o seu nome ainda é flor.

Por quê? A alma olha-se em um lago…

E vê suas memórias como pétalas

De algum perfume estranhamente vago…

 

O olhar não vê; cheiros e sons são música…

Das nossas mãos esvai-se o que tocamos…

Só o gosto das tardes quando morrem

Parece que sentimos… ou lembramos.

 

E esta saudade leve que flutua…

Sobre as pequenas urzes pelos cantos…

……………………………………………………

Quem passou por aqui à luz da lua?

Quem revirou as imagens dos santos?!!!

 

Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)

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