O plano de recuperação de áreas degradadas abrange diferentes etapas, que começa com o mapeamento da área, a escolha das espécies a serem cultivadas, entre outros fatores também a recuperação do solo e a cobertura vegetal, conforme explica o acadêmico de Biologia e agricultor agroflorestal Dauyzio Alves, que integra a o Balaio Agroflorestal, instalado há pouco mais de um ano, em uma área com cerca de 2 mil metros quadrados, no Sítio Juazeirinho em Iguatu.
A terra, que antes servia de pasto para gado, vem se tornando altamente produtiva. O modelo implantando está conseguindo recuperar parte do bioma da caatinga com a introdução de árvores e vegetação nativa. “A gente implantou uma diversidade de espécies nativas introduzidas no sistema que no futuro irão produzir madeira, matéria orgânica agora de imediato, e também produzir frutas e outros produtos nativos da caatinga. A gente contabilizou 31 espécies diferentes de árvores, fora plantas herbáceas e arbustos também, mas só de árvores, isso distribuídos em 367 indivíduos, plantas”, explicou o agricultor, afirmando que dá para conviver com pecuária, agricultura e aglofloresta em um só espaço. “A gente vai implantando por talhões. Estamos plantando linhas de árvores que tenham seis metros de distância uma da outra e que nesse intervalo a gente pode ter horta, que é o a gente tem agora, pode ter criação de galinhas, piquetes para gado, até produção em escala maior tipo algodão, milho, soja. Mas o agricultor pode e deve implantar o complemento arbóreo que vai ter outros benefícios também”, ressaltou.
Prioridade
Ainda de acordo com o projeto, a prioridade é possibilitar essa replicação de áreas, transformando espaços em condições de degradação em locais produtivos. Mas ainda há resistência por parte de muitos agricultores. “Temos um pacote inteiro que é vendido porque a empresa que financia as pesquisas, a empresa que financia o estado, a assistência técnica que são as grandes empresas. Elas têm necessidade que o produtor esteja amarrado nessa dependência. Um exemplo: o programa de distribuição de sementes. Não são distribuídas sementes crioulas, cujo agricultor poderia plantar no próximo inverno o que ele mesmo produziu. É distribuída uma semente que compro esse ano, e ano que vem tenho que comprar de novo porque é uma semente que é híbrida, não vai nascer, ou vai nascer muito ruim. Com isso implantaram essa ideia da monocultura. Quanto a gente tem a agroflorestal, que os índios moldaram a Amazônia através desse sistema, o sertanejo também usava um sistema parecido. A gente perdeu essa cultura, porque a mídia, a propaganda foi em cima com muita força, mostrando que esse era o único jeito de fazer, usar veneno e a monocultura. E a gente tem um jeito de produzir que é melhor, convive muito bem com o ambiente que a gente está, inclusive, economicamente”, afirmou, acrescentando que estudos técnicos apontam que a agrofloresta produz 60% a mais que a monocultura. “Mesmo tendo perda em alguma ou outra cultura. Economicamente, socialmente e ambientalmente é muito bom. Aqui a gente já tem animais nativos atraídos para dentro da área. É uma forma de fazer a agricultura que não preserva só meu dinheiro, minha comida, meu jeito de fazer as coisas, mas o ambiente em que a gente está como um todo”, destacou.
Barreira cultural
Ainda segundo Dauyzio, o modo de fazer a agroflorestal é observar como a natureza faz. Na área tem se observado a presença de animais da fauna sertaneja, entre essas cordiniz, preá, jacu, socó, o local tem atraído animais que não são de florestas, mas estão sendo atraídos pela diversidade. Dá para se tirar uma renda dessa atividade com o que é produzido aqui. A gente tem ideia ainda que produto sem veneno é produto caro. Tem produto natural que é mais barato que no mercado local. Por falha mesmo, a gente ainda não chegou ao nosso público alvo, a gente precisa chegar à periferia. Claro que a nossa produção não abastece a demanda, mas a gente não tem chegado a essas pessoas. Isso é uma questão cultural que a gente tem que superar”, ponderou, afirmando que faltam políticas públicas para acesso e estímulo a esse sistema. “Tem muito dinheiro para quem vai produzir convencionalmente, mas não tem nem planilha, não existe para esse tipo de plantio. Isso é uma barreira gigantesca”, concluiu.
Apesar de uma certa resistência, quem conhece o sistema agroflorestal fica interessado. “A gente vê que o que eles fazem é com gosto, amor, prazer. Isso é mais gratificante que fazer pelo dinheiro. A vida da gente não é só o ter. Não tem dinheiro que pague o que é feito o que se gosta”, destacou o produtor rural Domingos Batista.
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