Um projeto de largo alcance social e de saúde foi criado recentemente em Iguatu para atender mulheres em situação de vulnerabilidade. O projeto ‘Marias’ criado pela professora de Educação Física, Mestra em Ciências da Saúde, Thayná Alves Bezerra, 34, arrecada e distribui kits de higiene íntima contendo absorventes, sabonete, toalhinha de mão, lâmina de depilar, sacolinha de plástico ou papel e uma calcinha, para mulheres carentes. O projeto já alcançou dezenas de mulheres dos bairros Prado, Novo Iguatu e João Paulo II.
Além de Thayná, outros três voluntários também ajudam a coordenar as ações. Marcone de Oliveira, 41, Edivaneide de Sousa Gonzaga, 44, e André Ferreira da Silva, 31. Segundo os coordenadores, o trabalho não tem nenhum cunho político, partidário, ou religioso, objetiva exclusivamente oferecer um pouco de conforto e qualidade de vida para mulheres que vivem em total situação de vulnerabilidade social.
O trabalho dos voluntários envolve desde a busca por doadores, compra dos produtos, montagem dos kits, identificação das mulheres atendidas e a distribuição.
Tudo é ação de voluntariado. Os envolvidos arrecadam os produtos durante o mês, montam os kits e finalizam com a distribuição. No mês de janeiro, o projeto conseguiu arrecadar 550 kits. As doações vêm de padrinhos, anônimos e outras pessoas interessadas em ajudar. Alguns doam os itens, outras doam os kits já prontos ou apadrinham determinado número de ‘Marias’.
Cada kit custa em média R$ 10,00. Os interessados em fortalecer a corrente solidária podem apadrinhar uma ou mais mulheres doando os kits correspondentes, ou os valores em dinheiro, através de boleto bancário.
Prestes a completar três meses de funcionamento, o projeto Marias melhorou a qualidade de vida de dezenas de mulheres. A distribuição acontece em Iguatu e numa ala do presídio feminino de Crato, região do Cariri, onde estão mulheres detentas oriundas de Iguatu cumprindo pena.
Alto grau de carência
Thayná, que está concluindo doutorado em Epidemiologia da Atividade Física, é uma das voluntárias mais entusiasmadas. Ela contou que tudo começou quando teve acesso a um vídeo mostrando a realidade dura dos presídios femininos no Brasil e as situações de desconforto e privações das mulheres quando estão em fechamento de ciclo menstrual, por falta de absorventes.
Ela disse que também chamou sua atenção os relatos do livro ‘Presos que Menstruam’, da escritora Nana Queiroz, cuja autora revela a precariedade que envolve a falta dos produtos de higiene menstrual para as mulheres detentas. Segundo Thayná, o livro também revela como os presídios brasileiros ainda são desestruturados para receberem os detentos masculinos, e se tratando das mulheres a situação é ainda mais gritante, quando falta o mínimo, desde os kits de higiene até uma estrutura mais humana para as mulheres que se obrigam a ter seus bebês nesses locais, na maioria dos casos, sem assistência nenhuma.
A voluntária Thayná foi mais além ao pesquisar sobre os problemas de saúde causados por uma má higiene íntima no período menstrual. Segundo ela, os problemas podem variar das infecções diversas, evoluindo para outras gravidades, podendo até levar a mulher ao óbito. “As mulheres nos presídios, por exemplo, são as mais desassistidas e necessitadas, o grau de carência delas está muito além do que se possa imaginar”, lembrou.
Rede solidária
De acordo com a voluntária, o kit chamado de ‘Higiene Menstrual’, aos olhos de quem doa pode parecer simples, mas para as mulheres que recebem, têm grande valia. Ela contou que ouve relatos chocantes de mulheres que estão acostumadas a uma realidade de poucas perspectivas. “Algumas relatam que nesse período precisam escolher entre comprar um quilo de arroz, por exemplo, ou um pacote de absorvente, outras relataram que nunca puderam comprar uma calcinha nova, que usam sempre as que outras mulheres já usaram, e nos kits elas recebem, a reação delas ao receberem emociona”, disse.
Thayná acrescentou que a ideia é ampliar as ações e ajudar a construir uma rede solidária, promovendo pequenos gestos capazes de amenizar o sofrimento e a angústia dessas mulheres que estão vivendo sem o ‘mínimo’. “Acho que esse projeto faz mais bem a nós que estamos envolvidos diretamente, do que propriamente para elas, porque nos faz ver o mundo com outros olhos”, encerrou.
Os coordenadores do projeto também criaram um perfil no Instagram @projetomariasigt, onde compartilham informações, imagens e interagem com o público interessado em conhecer mais sobre as ações. “Mulheres nos presídios são as mais desassistidas e necessitadas”.
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