As regiões áridas e semiáridas do mundo abrangem cerda de 40% da superfície terrestre e, em virtude de pressões cada vez maiores causadas pelos seres humanos, as proporções dessas zonas vêm se expandindo sensivelmente nas últimas décadas. Destruição de vegetações nativas, degradação dos solos, aceleração do processo de desertificação e mudanças climáticas globais são exemplos de impactos que estão colaborando para a expansão dessas áreas.
Agregado às condições climáticas naturais existentes no nordeste brasileiro, existe o registro de várias ocorrências de seca, fenômeno que provoca deficiência de água com duração prolongada. Tal fenômeno é de vasta atuação espacial na região e exerce grande impacto nas atividades econômicas, bem como no meio fiscal e social.
Para que medidas fossem tomadas no sentido de amenizar os efeitos adversos provocados pela seca, foi necessário que várias vidas fossem sacrificadas. Com praticamente a extinção de todo o rebanho bovino da região e o registro de morte de nordestinos durante as secas de 1877-79 o fenômeno tomou expressão nacional, forçando o governo imperial a adotar medidas mais efetivas para a construção de açudes e estradas na região nordeste. A partir de então se iniciou a instalação de uma densa rede hidrográfica pública, tendo no processo de açudagem a principal estratégia utilizada para armazenamento de água como forma de minimização dos efeitos que a estiagem impõe à região.
Não é preciso andar muito para se deparar com essas construções simples no interior nordestino, que são usadas para armazenar água da chuva. Tais construções são geralmente grandes buracos cavados em áreas mais baixas que, devido ao déficit hídrico da região, passam grande parte do ano secos ou apenas com lama. O semiárido nordestino é a região com maior densidade de reservatórios do país em decorrência desses dependerem da disponibilidade espaço-temporal dos recursos hídricos da região, ou seja, estes são equipamentos de transformação e de adaptação das potencialidades naturais às demandas regionais.
Os grandes açudes de regularização do semiárido, projetados para enfrentar vários anos consecutivos de seca, garantem, na maioria das vezes, proteção contra períodos secos excepcionais. Eles se destinam a usos variados normalmente associados ao desenvolvimento da bacia onde estão inseridos, exercendo assim papel importante na oferta de recursos hídricos na região.
Entretanto, em decorrência da sua dinâmica natural, bem como à influência dos procedimentos de operação sobre a variabilidade dos processos físicos, químicos e biológicos e aos impactos resultantes das atividades humanas desenvolvidas ao longo de suas áreas de domínio, o gerenciamento da qualidade da água nestes ecossistemas artificiais torna-se altamente complexo. Um novo estado de equilíbrio pode ocorrer em um ecossistema perturbado por impactos naturais ou antrópicos, com reflexos nas relações ecológicas e estrutura das comunidades. Além disso, em regiões tropicais e subtropicais, como é o caso do território brasileiro, eventos sazonais podem induzir a uma maior complexidade vertical e horizontal do sistema, pois nessas regiões as variações temporais estão comumente associadas à sazonalidade dos regimes de chuva e vento.
A extinção de espécies e ecossistemas, diminuição da qualidade da água, retenção de acúmulo de nutrientes, aumento na frequência de ocorrência de florações de cianobactérias e doenças de veiculação hídrica, além da contaminação por substâncias químicas refratárias são alguns dos aspectos relacionados à poluição de reservatórios. Outro aspecto relevante, particularmente comum em reservatórios de regiões áridas e semiáridas, é a salinização. Tal processo geralmente está associado ao déficit hídrico, mas este também pode estar associado a fatores como o regime de operação e carga de sais dissolvidos e superdimensionamento. Este fenômeno pode inviabilizar o uso da água armazenada para fins industriais e de irrigação, assim como causar impedimento ao consumo humano e animal. Há de se considerar ainda a influência da salinidade sobre a estrutura das comunidades aquáticas através da seleção de espécies mais adaptadas a condições hipertônicas por meio de ajustes fisiológicos.
Apesar de sua grande importância como estratégia de recurso hídrico para o desenvolvimento econômico, com profundos reflexos nas relações sociais da região, o Estado do Ceará carece de informações acerca da qualidade da água nos seus reservatórios. Vale ressaltar, entretanto, a existência de trabalhos de execução de monitoramento dos recursos hídricos estaduais, como os feitos pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Estado do Ceará – COGERH, órgão que é responsável pela execução da Politica Estadual de Recursos Hídricos. Esses trabalhos têm gerado uma quantidade considerável de dados, que devem ser trabalhados objetivando gerar informações pertinentes para um melhor manejo dos nossos açudes.
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