Murilo Barroso (Aprendiz de Patativa)

13/03/2021

Enfileirados

 Gente demais ou servidores de menos?

Filas, um mal necessário e corriqueiro. Às vezes ficam quilométricas e, sempre, angustiantes. Formam-se por milhões de pessoas em busca de atendimento.

A extrema precisão da classe pobre, ou seja, da maioria dos nossos irmãos, nos obriga a enfrentar colunas humanas que dobram as esquinas a céu aberto, sobrecarregando os membros inferiores, bem como o resto do corpo e da alma dos dependentes e carentes de diversos serviços. Uma batalha quase sem alternativa. Algumas pessoas indispostas ao enfrentamento chegam a adiar para o dia seguinte, na falsa ilusão de um serviço mais rápido. Chegam na madrugada, mas terão de esperar horas e horas para o início do funcionamento. Acho que trocam seis por meia dúzia, exceto a vantagem de uma temperatura amena, dependendo da região.

As filas são mais longas e demoradas no setor da saúde pública (hospitais, postos de saúde, clínicas), no setor de transação econômica (bancos, casas lotéricas), no setor social (INSS) e, principalmente, quando o assistencialismo distribui a senha, gerando auxílios financeiros socorristas que amenizam alguns problemas, mas viciam o cidadão, deixando este assistido viciado e, ainda mais, acorrentado ao estado.

Além da multidão, existem os entraves operacionais como a internet, privilégio de “autoridades”, de pessoas empoderadas que quebram o protocolo e atropelam os ENFILEIRADOS, sem o mínimo remorso, obviamente com a conivência dos servidores que cumprem ordens ou, simplesmente bajulam os deuses.

O direito de preferência é, sobremaneira, violado. Casos prioritários que deveriam ser respeitados, passam a ser, muitas vezes, secundários, numa sociedade decadente de valores e de justiça. Nem sempre a idade, a deficiência física, a enfermidade ou o estado maternal (gravidez, amamentação) recebem o devido tratamento. Furar a ordem é comum. Uma imoralidade cultural da lei da vantagem, em detrimento as calçadas pisoteadas pelo desconforto de muitos.

Anunciam leis, como da Federação Brasileira dos Bancos, cuja espera não deve ultrapassar vinte minutos, porém esquecem de trocar as baterias dos relógios diante dos caixas e birôs reduzidos e, por maior esforço que façam, não obram milagres. Esse tempo instituído é convertido em horas nos salões bancários.

Em se tratando de saúde pública, muitas vezes, existe a necessidade de uma prescrição política que dê celeridade ao processo. Como nem todos têm o privilégio desse despotismo fraudulento, ocorre que em caso de doença grave, a qual, não pode esperar alguns meses, só Deus ou um caixão.

A saúde particular sofre de uma dor semelhante, pois em busca do remédio, os pobres fazem das tripas suas próprias safenas, pagando consultas caríssimas e assim superlotando à rede privada.

Se o alistamento se der por bolsa família, auxílio emergencial, aí estaremos acostados nas paredes externas, expostos ao sol ou a chuva, submetidos à especulação dos ambulantes que vendem água e alguns alimentos. Agora, aparecendo uma necessidade fisiológica, a coisa complica, geralmente não são de esperar muito.

A carência dos ENFILEIRADOS não consegue reverter a situação deste embate cotidiano.

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