A semana termina expondo às escancaras o que já sabíamos: o maior responsável por grande parte dos mais de quatrocentos mil mortos pelo coronavírus tem nome e se chama Jair Messias Bolsonaro.
Prevista para concluir seus trabalhos em noventa dias, a CPI da Covid-19, instalada no Senado para investigar as ações do Governo Federal no campo da saúde, suas omissões e desmandos que levaram a esses números dramáticos, mal precisou de uma semana para dar a ver o que, em condições previstas na Constituição (independência, rigor e imparcialidade) deve ser o seu relatório final.
Os depoimentos de dois ex-ministros e do atual titular da pasta, pôde-se ver, revelaram conteúdos tão claros que podem, sem qualquer prejuízo, apontar para linhas de ação e perfis de conduta absolutamente bem delineados, a saber: Luiz Henrique Mandetta agiu de forma condizente com a Ciência, teve capacidade de comando e foi firme em se manter coerente quando as pressões do presidente o afastaram do cargo; Nelson Teich, que o sucedeu, a exemplo de Mandetta, manteve-se fiel à Ciência, mas lhe faltou comando, firmeza para estabelecer um programa eficiente de combate à doença, embora tenha tentado preservar a imagem ao pedir o chapéu; Marcelo Queiroga, atual ministro da Saúde, em que pese ter um histórico profissional que conta em seu favor na perspectiva do cargo, é titubeante, medroso e, por isso, incapaz de tirar o país do abismo a que se dirige a passos largos. Numa palavra: conivente.
Diante do que se viu na semana que termina, com relação à CPI, o depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello, mais que uma pá de cal para o que resta de esperança ao Governo, anuncia-se como um revoltante espetáculo burlesco (numa hora em que perdemos um gênio do verdadeiro humor), algo a contrastar com o desespero que se agiganta em meio ao festival de irresponsabilidade, sordidez e vileza próprias de um genocídio.
Para além disso, diga-se em tempo, como observou com propriedade um craque na matéria, o jornalista e escritor Ruy Castro, em coluna da edição desta sexta-feira da Folha de S. Paulo, a CPI da Covid-19 serviu para demonstrar a dificuldade de senadores para arguir: tropeçam nas palavras, alongam-se em subjetivações, fogem do objetivo de uma CPI, constroem raciocínios prolixos e equivocados, mas, sobretudo, o despreparo e a vassalagem desavergonhada de alguns dos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito. A defesa que o bolsonarista Luiz Carlos Heinze fez do uso da cloroquina, por exemplo, deve entrar para os anais da Casa como uma das páginas mais ridículas, vis e delituosas de que se tem notícia nos últimos anos.
Ao falar na sessão dessa quarta-feira 5, na desesperada intenção de poupar o chefe, Heinze expôs sem disfarce, em que pese a máscara, o que bem pode ser visualizado como a cara do Brasil hodierno: uma farsa.
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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