Já não chegam os esgotos que são despejados, o aterramento e o desmatamento provocados pela ação humana. Incêndios e a deposição de lixo e entulhos de construções contribuem para as agressões permanentes que sofre a lagoa da Bastiana. Na quinta-feira, 20, nossa reportagem registrou mais um incêndio provocado nesse importante manancial, que fica dentro de uma APA (Área de Proteção Ambiental).
De longe era possível avistar a alta coluna de fumaça que saía do meio da mata que ainda resta, nas proximidades da Avenida Fransquinha Dantas, provocada pela queima de pneus. “É uma judiação. Estamos no período de inverno. Tá tudo verdinho e fazem esse mal pra lagoa. Tocam fogo. É pior na seca, que tocam fogo no capim, a fumaça invade as casas e fica é tempo as cinzas se espalhando pelo ar. Desgraça casa, mancha as roupas que a gente colocar pra secar. É triste! Muita maldade quem faz isso”, lamenta a aposenta Maria Galvão, moradora do bairro Jardim Oásis, apontando ainda que a muitos trechos da lagoa, também do outro lado da Avenida Perimetral, no bairro em que ela mora a situação não é diferente. “Jogam de tudo. Até animal morto, colchão, resto de móveis. As pessoas sabem o dia que o carro do lixo passa. Mesmo a prefeitura limpando, no outro dia está do mesmo jeito”, comenta.
Sem fiscalização
Com base em levantamentos feitos pelo Movimento Faça Parte Iguatu, entre 2016 até 2019, o principal agente degradante da lagoa são ações humanas. Na época foram localizados pelo menos 30 pontos de deposição irregular de resíduos sólidos e entulhos de construção, e pelo que se observa hoje, já tem muito mais que o triplo. Em uma pequena área próxima à Avenida Fransquinha Dantas, nossa reportagem contou 15 pontos, além do local em que foi colocado fogo em pneus, chegando a matar uma árvore. “Essa lagoa sofre demais, todo ano tem incêndio. São incêndios criminosos. Esse fogo não acontece espontaneamente. Eles são criminosos. Não tem fiscalização. Então isso vai acontecer corriqueiramente. Vai se tornar hábito, inclusive. Tem também outra questão da ocupação e invasão imobiliária. Por exemplo, nesse momento de pandemia, que não tem fiscalização, aos poucos vão aterrando, aproveitando as brechas na fiscalização e na própria Legislação Ambiental e vão aterrando e construindo. E tem inúmeros exemplos não só aí, mas em outras áreas de lagoa. Quem acaba tendo prejuízo é a população pobre que mora na região que é afetada e não tem nem como se defender”, pontua Dauyzio Alves, ambientalista e estudante do curso de Biologia da UECE/FECLI.
Urbanização
A lagoa da Bastiana está em uma área de preservação ambiental que foi instituída por Lei Municipal no início da década de 1990. De acordo com a Secretaria do Meio Ambiente e Proteção Animal de Iguatu, os problemas de degradação da lagoa vêm de muito tempo. “É mais uma questão de educação das pessoas, infelizmente as pessoas insistem em querer continuar fazendo as coisas erradas. A gente já conversou com o pessoal das carroças que faz muito isso. Já conversamos com prefeito sobre isso em relação à questão de ter algum programa social para esses carroceiros porque daqui a pouco a gente vai ter que multá-los, e isso não queremos, mas é um problema social. Eles vivem desse trabalho, precisam desse trabalho, mas muitas vezes eles não querem obedecer a determinadas normas. A saída para isso a gente tenta fiscalizar, tenta de toda maneira, mas infelizmente não temos uma pessoa para ficar lá, 24 horas por dia. Vejo que a saída vai ser com a autorização do início da obra da lagoa. Essa área vai ser toda cercada com alambrados. Essa estrutura vai permitir que isso não aconteça mais. Enquanto isso a gente tenta orientar, educar e continua fiscalizando”, explicou o secretário da pasta, Mário Rodrigues, afirmando que tudo está sendo feito para não prejudicar os carroceiros. “São pessoas que precisam desse trabalho. Já estamos renovando os cadastros das carroças para que eles tenham um número e a partir desse número a gente tem uma identificação, já foi feito uma vez. Vamos fazer isso novamente”, explica o secretário da pasta, afirmando que a obra já foi licitada e o processo licitatório está na Caixa Econômica Federal. “Estamos só guardando ser analisado para que haja essa liberação. Uma obra que eu acredito que não demore muito a iniciar. Vai ser uma urbanização muito bonita voltada para o bem-estar da população e principalmente focando na proteção e preservação da lagoa. O que a gente está tentando é isso, um trabalho de conscientização, mas é uma coisa difícil. É uma área bonita que poderia ser transformada numa área verde, e a gente não está conseguindo por conta que algumas pessoas chegam a fazer essa degradação”, pondera que também há projeto com que utilizará recursos do empréstimo conseguido através da CAF, para a despoluição da lagoa com toda parte de saneamento nas residências e locais que jogam dejetos na lagoa.
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