Na primeira parte desse assunto abordamos em edição anterior, a bolha imobiliária americana e suas consequências. Nessa edição finalizamos com o mesmo fenômeno ocorrido no Japão.
Inicialmente é importante destacar que em geral as crises estão sempre associadas, aos auges dos ciclos econômicos geralmente marcados pelo excesso de liquidez e crescimento do mercado de capitais. O Japão por sua vez seguiu a mesma regra americana, quando sua economia viveu um boom no final da década de 1950 e durante a década de 1960, impulsionado em geral em razão das exportações que flutuavam, mas estavam sempre em crescimento, além dos investimentos e a poupança elevados, a tecnologia avançava e a bolsa de valores explodia com o índice Nikkei em alta.
O Japão conseguiu construir a sua escalada de bolha imobiliária, inicialmente a partir da desregulamentação gradual dos controles financeiros, volumosos empréstimos japoneses no exterior e do exterior para o Japão, além da ocorrência de problemas com os mercados compradores visto que exportava os seus produtos para outros países asiáticos. Em seguida as vendas despencaram ocorrendo decadência em investimentos e os empréstimo obtidos ficaram impossíveis de serem pagos, a taxa de câmbio que valorizava o iene (moeda oficial do Japão) que saiu de 260 por dólar em 1982 para 80 ficando ao final desta década próximo aos 100, endividamento crescente das empresas que se socorriam aos bancos e ao final estes ao banco do Japão (espécie de banco central do pais), a presença do estado na economia gerando corrupção entre os empresários e agentes públicos, o que ao final instituiu a presença do crime organizado na estrutura política e econômica do país.
O mercado imobiliário por sua vez, não poderia deixar de acompanhar o contexto econômico e embarcou nessa aventura desastrosa. Para termos uma ideia da especulação imobiliária ocorrida, um determinado índice que media preços para imóveis em algumas cidades mais importantes do país, no ano de 1955 media 100 vindo atingir 4.100 em 1970, 5.800 no ano de 1980 e chegando a 20.600 em 1989 quando a crise começou a explodir. O resultado dessa bolha se traduz em números vistos em 1991 o valor dos imóveis do Japão atingiram 18 trilhões de dólares, o que representava quatro vezes o preço de todos os prédios e casas do Estados Unidos naquela época. Outro dado surpreendente é que apenas o preço do terreno do palácio imperial equivalia ao valor de todos os prédios residenciais e comerciais do estado da Califórnia juntos.
O estouro da bolha ficou inevitável e em 1990 veio ao conhecimento público, as manobras contábeis e escândalos que tinham nos empréstimos bancários o principal alvo, com o favorecimento de clientes ligados a fortes grupos empresariais e à setores do governo japonês. A contabilidade maquiada revelou que na realidade se escondia escândalos e prejuízos incontáveis aos investidores. O índice Nikkei (bolsa de valores japonesa) caiu de forma vertiginosa e o comércio imobiliário despencou. As perdas no setor ocorreram de forma célere, e os empréstimos que somaram cerca de 550 bilhões de dólares sofreram um choque jamais previsto, ocasionando a falência de uma média de 1.000 empresas mensalmente.
O resultado de tudo isso é a recessão que desde então o Japão foi inserido, tendo até os dias atuais tentado se recuperar economicamente desse fenômeno que ocorreu no período de 1986 a 1991.
É importante lembrar que a bolha japonesa ocorreu bem antes da americana, e assim concluímos que mesmo com todo o ciclo vivido pelo estado japonês frente a uma economia temporariamente mascarada, que privilegiava algumas poucas empresas e agentes do estado, os Estados Unidos acabaram de certa forma cometendo erro parecido que possibilitou àquele país também experimentar esse momento econômico desastroso.
Em relação ao nosso País uma possível ocorrência de bolha imobiliária é de fato muito difícil ocorrer, pois as famílias de baixa renda como é o caso dos NINJAS americanos, ao realizarem um financiamento imobiliário essa operação possui um “fundo garantidor”, o que inexistia nos Estados Unidos e Japão. Assim o crédito cedido à classe de baixa renda é apoiado pelo FGTS e subsidiado pelo governo federal. Com isso o governo propicia crescimento da construção civil e geração de emprego e renda, inibe a especulação, estimula o crescimento de ativos e evita o surgimento de crises, destacando ainda que o crédito para as demais classes sociais é diferenciado, como é o caso do uso de rendimento de caderneta de poupança para o financiamento conhecido como SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo).
Por fim, destacamos ainda que ao contrário dos Estados Unidos e Japão, no Brasil não há desregulamentação financeira como ocorreu naqueles países, além de que os imóveis produzidos são vendidos para pessoas com capacidade de pagamento, precedido de uma análise criteriosa da sua situação financeira.
Até breve!
- Fracinildo Lima
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