Nelson e sua bicicleta

03/07/2021

Nelson Gomes da Silva, 70, empresário do segmento de ferramentas para o campo, é um adepto da bicicleta. Adotou a ‘magrela’ há mais de uma década e pôde ver muitas mudanças em sua rotina, talvez a maior delas na qualidade de vida. Nelson enumera com facilidade as vantagens de usar a bicicleta numa cidade como Iguatu, cujo simples ato de pedalar já significa prática de exercícios, além disso, não polui o meio ambiente, por não emitir gás carbônico, com a queima de combustível fóssil, logo o empresário lembra que não gastar combustível significa economia no bolso. Outra vantagem citada por Nelson é o uso da vaga de estacionamento em frente à loja. “Ao invés de eu colocar meu carro, deixo a vaga para o cliente, ele é mais importante”, lembrou.

Nelson é daqueles homens sistemáticos. Ele tem hora para chegar e sair do trabalho. Abre às 8h e fecha meio-dia para o almoço, retorna às 14h e fecha às 17h. De segunda a sábado, divide o trabalho de atendimento à clientela, na loja localizada na Rua Floriano Peixoto, no Centro, com seu assistente, o balconista Israel, fiel escudeiro de uma parceria de 34 anos. No início do expediente e nas saídas, no final ou para o intervalo do almoço é comum ver o Nelson, inconfundivelmente, com sua bicicleta Monark azul, Barra Circular, ano 2014, muito bem cuidada, e seu chapéu de massa. Não seria surpresa para o caro leitor encontrar este respeitável senhor de 70 anos, elegantemente vestido, usando sapatos, calça e camisa social e de pano passado, pedalando sua bicicleta, indo para o trabalho ou para sua casa.

Pedalar sua bicicleta é uma prática que o Nelson adotou há mais de dez anos, como escolha própria, por considerar que é saudável, economicamente é mais viável, não agride a atmosfera e dá até para apreciar mais o caminho, no trajeto de casa para a empresa, ou vice-versa. “Comecei a usar a bicicleta, aprendi a gostar e pedalo porque acho saudável, sei que estou ajudando à minha saúde e o meio ambiente, ?”, ressaltou.

Mas as mudanças na rotina do Nelson tiveram lá seus percalços. Ele disse que no começo foi incompreendido e muito criticado por alguns que o questionavam sobre o porquê de ele ter trocado o carro confortável (na época uma caminhonete Ranger), com ar condicionado, pela bicicleta. Nelson afirmou que nunca deu ouvidos a esses. O empresário disse que se espelhou nos holandeses, que há muito mais tempo, grande parte da população, adotou a bicicleta e hoje o país é modelo para o mundo, por jogar menos gases tóxicos no ar.

Mas o Nelson não é somente um ‘pedaleiro’ de plantão. Além de usar a bicicleta para se deslocar pela cidade, ele ainda faz uma hora de caminhada por dia, com a esposa, Marinete Nogueira, e a cadela Shakira, mascote da família. O resultado dessa prática diária de exercícios o Nelson exibe no próprio corpo e nos números de suas taxas. Ele conseguiu equilibrar o peso, não sofre de nenhuma doença crônica (diabetes, pressão alta ou cardíaca) e garante que dorme bem à noite, se alimenta bem e não lhe falta disposição.

 

O empresário Nelson Gomes está numa linha tênue, a qual todo morador da cidade deveria fazer a mesma coisa, adotar a bicicleta. A cidade já oferece naturalmente as condições de tráfego, por sua geografia plana, precisando apenas investimento do poder público em sinalização, no pavimento desgastado, e nas pistas exclusivas para ciclistas. Se quiser ir mais além nas melhorias poderia se pensar num bicicletódromo (com a disponibilidade de bicicletas pelo poder público, para as pessoas usarem), prática já adotada por várias cidades brasileiras, inclusive a capital cearense, Fortaleza.

Atualmente no Brasil o segmento de bicicletas, incluindo manutenção, peças, acessórios e até das bicicletas novas, é um dos mais que mais tem crescido. Iguatu é um exemplo. Novas lojas abertas, incremento com os acessórios para os modelos de aro leve e alumínio, oficinas de manutenção se modernizando e, para variar, muita exploração nos preços, desde as bicicletas novas, manutenção peças e acessórios.

200 anos da bicicleta

Em 1815 a erupção do monte Tambora, na ilha de Sumbawa, na Ásia, um desastre ambiental e social, sem precedentes, matou milhares de cavalos que eram usados para muitos fins socioeconômicos na época. Dois anos depois, em 1817, o alemão Karl Drais criou e lançou para o Mundo a primeira bicicleta. Não tinha freios, nem pedais, o nome era Draisine. Era um misto de ferro e madeira, com assento, guidão e duas rodas. Em 1863, 50 anos depois, nasceu o velocípede. Tinha rodas com tamanhos diferenciados, sendo que a roda dianteira três ou quatro vezes maior que a traseira dava mais velocidade e percorria uma distância maior. Em 1866 nasceu a bicicleta ‘Safety’. Foi a estreia das rodas de tamanhos normais. Tinha mais ferro, mas em compensação já era a mais semelhante com os modelos atuais. Em 1888, o escocês, John Dulop desenhou os pneus de borracha e deu mais agilidade à ‘magrela’, além de favorecer e fortalecer a igualdade de gênero. Em 1896, Suzan B. Anthony, ativista feminina americana declarou que “O ciclismo fez mais para emancipar as mulheres do que qualquer outra coisa no Mundo”.  Na edição do evento ‘Tour de France’ de 1903 a bicicleta apareceu pela primeira vez. O modelo ‘Chopper’ foi lançado em 1969. Na década de 1970, mais precisamente em 1971surgia a BMX, um modelo menor, mais leve, com pneus mais robustos e largos, já com característica de competir em eventos com obstáculos. Mas a revolução só chegaria em 1981 com o lançamento da ‘Moutain Bike’, que ajudou a impulsionar e popularizar o uso da bicicleta, aquecendo também o mercado fabricante. Atualmente, cerca de 100 milhões de bicicletas são fabricadas por ano, no Mundo. Em 2050 o uso de bicicletas passará de 7% para 22%, reduzindo a emissão de gases poluentes em até 47%. Com isto acredita-se que a bicicleta será o transporte urbano do futuro.

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