Já é de longas datas e memórias a afirmação de que Iguatu, por sua geografia plana, sem muitos obstáculos, ladeiras e altos, é uma cidade propícia para o uso da bicicleta. Além de todos esses fatores, ainda vem a questão ambiental. Com mais bicicletas circulando e menos gases poluentes sendo emitido para a atmosfera, significa que a população vai respirar um ar menos carregado com menos partículas de dióxido de carbono. Em tese é assim que deve ocorrer.
Este periódico já fez abordagens diversas em edições anteriores a respeito da viabilidade socioeconômica do uso da bicicleta. Se mais pessoas forem aderindo ao uso da magrela para ir e voltar do trabalho, ir ao supermercado, ou simplesmente para um passeio de começo de manhã ou fim de tarde, isso ajudaria a termos menos carros e motos circulando pela cidade. Como resultado teríamos também mais vagas de estacionamento, as oficinas de manutenção de bicicletas teriam mais demandas de serviços e as lojas e casas de peças venderiam mais.
O debate do uso da bicicleta desenha um caminho linear desde os anos 80. O extinto jornal De Fato já estampou em sua capa manchete garrafal com o título: “Por uma política cicloviária’. O artigo produzido pelo arquiteto urbanista Paulo Cézar Barreto, além de gerar repercussão, deixou uma fagulha guardada, para que num futuro o assunto voltasse para as páginas dos veículos de imprensa, considerando que é um tema latente a atravessar gerações.
Viabilidade
A população e o poder público já são conscientes que a cidade é adequada para o uso da bicicleta. É sabido também que esta prática é economicamente viável, principalmente se levar em conta como parâmetro, o preço dos combustíveis. De bicicleta é mais barato, o veículo é de baixo custo, manutenção tem custo baixo e o praticante se exercita à medida que se desloca, seja a trabalho ou lazer.
Nos anos 80 a cidade de Iguatu tinha mais bicicletas do que motos. Era a 2ª cidade do Ceará a ter mais bicicletas, só perdia para Limoeiro do Norte. Com a popularização da motocicleta, a bicicleta ficou um pouco de lado, sendo, somente agora vista como opção, pelos fatores já mencionados: preço da gasolina, preservação do meio ambiente e a prática dos exercícios físicos.
O uso da bicicleta em Iguatu é extremamente viável. Mas existe um leque de limitações pela frente. Uma delas, talvez a mais desafiadora: educar a população para usar corretamente o trânsito. Coisas simples, mas que ao longo de décadas, as pessoas não foram educadas para fazer, como trafegar pela mão de direção, estacionar no local adequado, ou permitido. Flagrar as pessoas trafegando de bicicleta pela contramão é cena corriqueira no centro e nos acessos da cidade.
Circular pela cidade de bicicleta, ir e voltar do trabalho, praticar atividade física e até para atividades de lazer com a família têm sido práticas saudáveis adotadas por muitos iguatuenses. Alguns por opção, outros por necessidade, e a maioria pelo desejo de viver melhor a cidade, já que circulando de bicicleta é possível observá-la melhor.
Personagens
Demontier Ferreira Alves, 41, mestre em panificação, é um iguatuense que vai e volta todo dia para o trabalho usando a bicicleta. Ele disse que não trafega pela contramão, respeita a sinalização e sempre trafegou de bicicleta, por ser o transporte mais viável, mediante suas condições econômicas.
Francisco Leite de Oliveira, 62, carregador, reside no bairro João Paulo II. Diariamente ele se desloca para o centro de bicicleta. No domingo ainda aproveita para os momentos de lazer pedalando cerca de 20 quilômetros. “Sempre andei de bicicleta. Esse é meu transporte desde os anos 80. Estou tão acostumado que não sei ficar em ela”, afirmou.
Alzira Gomes Lira, 67, catadora, não sabe quantos quilômetros percorre por dia de bicicleta recolhendo papelão, garrafa pet, metais, plásticos e outros materiais para vender e usar o dinheiro para as despesas de casa. “Tem dia que carrego tanto peso nela que você precisar ver. Graças a Deus, essa bicicleta é meu ganha-pão, sem ela não sei o que seria de mim”, disse.
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