Entrevista – Dra. Juliana V. Pinheiro, Médica dermatologista

14/08/2021

 

No dia 1º de agosto é comemorado o Dia Nacional do Portador de Vitiligo. O jornal A Praça traz o tema aos olhos do leitor, visando aumentar a conscientização sobre esta doença que afeta milhares de pessoas. Na entrevista com a médica dermatologista Juliana V. Pinheiro, é possível conhecer mais sobre a doença, diagnóstico e tratamento.

 

A Praça – O que é vitiligo? Como a doença se manifesta?

Dra. Juliana – Vitiligo é uma doença genética caracterizada pela perda da coloração natural da pele. Não se sabe ao certo a verdadeira causa do vitiligo, mas a principal hipótese é que seja uma doença autoimune. O que sabemos com segurança é que não é contagiosa e nem causa repercussões sistêmicas. O seu início pode ocorrer já na infância.

A Praça – Quais são os sintomas? Como é feito o diagnóstico?

Dra. Juliana – A doença se manifesta com manchas brancas em decorrência da redução, na área afetada, dos melanócitos, que são as células responsáveis pela coloração da pele. O diagnóstico é essencialmente clínico. Em casos selecionados, pode-se fazer uma biópsia da pele em que comprovamos a ausência ou redução dos melanócitos.

A Praça – Por que a doença vitiligo é perceptível em pessoas da pele mais escura?

Dra. Juliana – Em pessoas com o fototipo mais alto, em decorrência do contraste da mancha com a pele saudável ao redor, há uma maior evidencia das lesões.

A Praça – É verdade que o surgimento da doença pode estar relacionado com os casos de pessoas autoimunes?

Dra. Juliana – Por ter uma possível causa imune, deve-se fazer a investigação de outras doenças autoimunes, como, por exemplo, doenças da tireoide e alopécia areata.

A Praça- Os fatores emocionais podem alterar o quadro da doença?

Dra. Juliana – Sim, nas pessoas que têm vitiligo, o estresse emocional pode ser gatilho para surgimento de novas lesões ou piora das manchas já existentes. E apesar de não ser uma doença que ponha a vida em risco, o vitiligo pode gerar impactos muito negativos na qualidade de vida do paciente. Algumas pessoas pioram sua autoestima, podendo desenvolver depressão, por exemplo.

 A Praça – Quais são as áreas do corpo mais afetadas pelas lesões da doença?

Dra. Juliana – A mudança na coloração pode acontecer de forma disseminada, acometendo várias partes do corpo, ou restrita a um segmento. Os pelos também podem ser afetados. As lesões são mais comuns em áreas sujeitas a traumas como mãos, joelhos, cotovelos, face e região genital.

A Praça – Existe cura para o vitiligo, ou apenas tratamento e controle?

Dra. Juliana – Atualmente existem várias opções terapêuticas com resultados interessantes, porém não podemos falar em cura. O tratamento do vitiligo deve ser individualizado e deve ser discutido com o médico dermatologista. De modo geral, os objetivos são estabilizar o quadro, ou seja, evitar que surjam novas lesões, repigmentar a pele afetada ou apenas camuflar a área despigmentada. Pelo impacto na autoimagem, um acompanhamento multidisciplinar, em conjunto com outros profissionais, não deve ser esquecido.

A Praça – As lesões do vitiligo causam dor? Existe risco de transmissão?

Dra. Juliana – A maioria dos pacientes não apresentam sintoma além das manchas. É importante lembrar que há um risco aumentado de queimadura solar nessas áreas resultando em dor. O acompanhamento com dermatologista pode ajudar a elaborar um plano de cuidado e evitar queimadura solar dolorosa.

A Praça – Os pacientes acometidos sofrem preconceito? O que fazer para ter uma convivência normal com a doença?

Dra. Juliana –  Infelizmente, sim, há inclusive estudos comprovando isso. Muitas vezes os portadores da doença ficam constrangidos com as possíveis reações das outras pessoas, como o medo de contágio, e até de atribuírem a doença à má higiene pessoal. Por ser uma doença genética, não há risco de contágio! As pessoas portadoras de vitiligo precisam de apoio e todos podemos ajudar, mesmo que seja com informação.

A Praça – Qual sua relação direta com a cidade de Iguatu?

Dra. Juliana – Sou médica dermatologista. Nasci em Belém-PA, onde morei até os 13 anos. Mas a minha família é de Quixadá-CE e meus pais sempre sonharam em retornar. Hoje moramos em Fortaleza. Mas tenho uma relação muito próxima com Iguatu, devido à família do meu esposo. Venho a Iguatu com frequência há mais de 15 anos.

A Praça – A medicina sempre foi um sonho de criança?

Dra. Juliana – Sempre sonhei em ser médica e me encantei pela dermatologia, em particular, bem nova. Na nossa família, a medicina é uma tradição. Tenho uma tia que se formou em medicina ainda na década de 1950, quando era incomum para mulheres.

Perfil

Dra. Juliana Pinheiro é paraense nascida em Belém, capital do Pará. Filha de pais cearenses do município de Quixadá, quis o destino que viesse estudar aqui em terras alencarinas, lugar de origem de seus genitores. É graduada em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (Barbalha), com especialização em Medicina da Família e Comunidade, pela Secretaria de Saúde de Fortaleza e em Dermatologia, pelo Centro de Dermatologia Dona Libânia.

Dra. Juliana atende no Hospital São Camilo. A jovem médica encontrou os caminhos de Iguatu porque é casada com o também médico cirurgião cardiovascular Dr. Saulo Teixeira, que também atende em Iguatu no Hospital São Camilo. Agora o casal estará semanalmente clinicando na cidade, cada um em sua respectiva especialidade.

Ser médica e cuidar do bem mais precioso das pessoas, a saúde, era um sonho de Juliana desde criança.

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