“Eu nunca tinha visto isso na minha vida. Quando cheguei aqui, o fogo estava tomando conta de tudo. Vi peixes pulando fora água por causa da quentura do fogo. Acredito que essa água estava muito quente. Era muito peixe. Infelizmente, a gente não pôde fazer nada. Nunca tinha visto tanto fogo desse jeito. A gente até tentou apagar o fogo mais perto de casa” contou o ajudante de pedreiro Cícero Silva, que mora bem próximo à lagoa da Bastiana.
O fogo que teria começado nas proximidades da avenida Fransquinha Dantas logo se alastrou por grande área de vegetação nativa, demorando dois dias para ser debelado. “Matou muito bicho. Aqui a gente costumava ver ninhos de pássaros nessas árvores grandes que foram queimadas. Tinha um teiú grande que sempre estava por aqui. Com certeza foi morto pelo fogo, porque no outro dia só o que a gente via era urubus andando pelas cinzas. Todo ano tem fogo aqui. Mas dessa vez foi grande demais”, comentou o pintor João Ferreira, que ainda conseguiu salvar do fogo bags com material reciclável. “Graças a Deus, moradores conseguiram tirar para uma área mais segura antes que o fogo chegasse. Senão teria sido um prejuízo muito grande pra gente”.
Calor e cinzas
O fogo proporcionou uma imensa cortina de fumaça que prejudicou moradores de bairros vizinhos, além de pôr em risco quem precisou trafegar pela Avenida Perimetral. “Logo na entrada da cidade, quando a gente vem do sentido do Barro Alto, a gente já via a fumaça de longe. Eu já imaginava que era na lagoa. Meu filho, que tem problemas respiratórios, teve que ficar no sítio porque não podia dormir em casa. Agora vamos ficar no calor, porque toda vegetação foi destruída. Todo vento que dá traz as cinzas para dentro de casa. E o pior que ninguém nunca sabe quem faz isso”, reclamou Cícero.
Equipes do Corpo de Bombeiros encontraram muita dificuldade para apagar os focos. No local há também muitos entulho e lixo jogados no torno da lagoa. O fogo destruiu além da vegetação, árvores nativas e animais da fauna silvestre. A lagoa da Bastiana fica em uma Área de Preservação Ambiental – APA, instituída por lei municipal no início da década de 1990.
O secretário do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Proteção Animal, Mário Rodrigues, esteve na área atingida e reforçou para nossa reportagem que está em andamento um projeto de urbanização e preservação da APA da lagoa que irá evitar esse tipo de crime. Esse projeto está seguindo os trâmites legais. “Logo em breve será iniciada essa execução. É uma necessidade urgente. Não podemos mais ver essa lagoa sofrer tanto assim. Dentro desse projeto haverá um alambrado de proteção para evitar a deposição de lixo, vai receber plantios de mudas nativas de acordo com o ecossistema dela. É triste ver tudo isso devastado pelo fogo”, lamentou o gestor, afirmando que a secretaria está apurando o caso.
Crime
O Corpo de Bombeiros acredita que foi um incêndio criminoso. Mais de 90% desse tipo de ação é provocada pelo homem. Esse tipo ocorrência aumenta no segundo semestre do ano e entre os fatores vegetação seca e os fortes ventos ajudam a propagar com mais rapidez o fogo. Em média, Iguatu registra cerca de seis ocorrências de incêndio por dia, praticamente ao mesmo tempo, prejudicando a atuação dos bombeiros. “É uma situação preocupante, porque nunca se sabe quem pratica esse tipo de ação. Vale ressaltar que colocar fogo em vegetação sem autorização é crime. Seria muito bom que as pessoas que fazem isso tivessem consciência da gravidade que estão fazendo”, disse o subtenente Cheyne, bombeiro militar.
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