O conto árabe “As duas irmãs que tinham ciúme de sua irmã mais nova” e o caranguejo no balde representam o Brasil.
Dentro deste conto, traduzido por Andrew Lang, em 1898, há uma passagem muito interessante.
Algumas personagens estão em busca de artefatos mágicos e, para isso, precisam subir uma montanha rodeada de rochas mortas.
O detalhe é que estas rochas são, na verdade, outros aventureiros que buscaram o tesouro e não o obtiveram.
As instruções são simples: não vacilar. Se olhar para trás ou titubear na subida da encosta da montanha, tu te tornarás em uma rocha morta também.
Outro detalhe: apesar de serem rochas, estes outros aventureiros podem falar e ficam a sussurrar “imbecil” ou “mate-o!” para o aventureiro que resolve subir a montanha.
Os sujeitos buscavam um tesouro e não o obtiveram; como “consolo”, eles passam toda a eternidade azarando o próximo aventureiro, afim de torná-lo como eles.
Isso reflete quase tudo referente aos sonhos no Brasil: se um sujeito não alcança os seus, parte logo a atrapalhar os sonhos alheios.
Não à toa, muitos caem nas ladainhas das rochas mortas, mas, em dado momento, alguém as vence e alcança o tesouro, libertando os aventureiros aprisionados, que a saúdam com “parabéns!”.
Ora, os mesmos que fizeram de tudo para que a personagem não alcançasse seu objetivo, agora parabenizam sua vitória.
Tom Jobim certa vez disse que, no Brasil, o sucesso é uma ofensa pessoal. Aqui cabe a metáfora dos caranguejos no balde: na ânsia de querer subir, um vai puxando o outro, e ninguém escala, ao final.
Não à toa nosso maior romancista, Machado de Assis, falou tanto sobre inveja e autoengano. Paira sobre a sociedade brasileira, segundo o bruxo do Cosme Velho, uma espécie de mediocridade velada – o brasileiro aceita os “sabidos”, desde que estes sejam excêntricos, pernósticos e coisa que o valha.
Assim, qualquer inteligência que questione o status quo, será rechaçada, jogada ao limbo do ostracismo.
Cuidado, leitor amigo, com as rochas mortas que estão ao teu redor. Fuja delas. Certifique-se, como diria o Dr. Freud, se não está rodeado de idiotas.
Prefira a solidão. Nada me deixa mais grato do que não fazer parte desde mundo – de ser sempre o “outro”, o “sumido”.
É sábio sumir e estar morto em um mundo adoecido.
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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