“Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.” – Nelson Rodrigues
O amigo leitor há muito sabe que sou um entusiasta defensor da liberdade individual. Não penso que o coletivismo, na maioria das vezes, seja salutar ao indivíduo. Ao contrário: o espírito que permeia uma sociedade comunal é precisamente o da perda da identidade em nome de uma homogeneização que, por ser prejudicial, deve ser combatido a todo custo.
Inclusive no que tange a economia, Ludwing von Mises (1881-1973) alertou-nos sobremaneira sobre tais impossibilidades de uma estrutura forte e eficaz proposta por viés socialista, comunista ou qualquer coisa que se assemelhe. No seu aclamado trabalho acadêmico ‘‘O cálculo econômico em uma comunidade socialista’’ (1920), o autor aponta para tais questões de falha de estrutura e um descaso com a realidade do mundo socioeconômico de fato.
‘‘Existem muitos socialistas que jamais estudaram, de uma forma ou de outra, os problemas da ciência econômica, e que jamais fizeram qualquer tentativa de formar claramente algum conceito sobre as condições que determinam a natureza da sociedade humana. E existem outros que examinaram profundamente a história econômica do passado e do presente, e se esforçaram — baseando-se em seus achados — para construir uma teoria sobre a economia da sociedade “burguesa”. Eles criticaram livremente a estrutura econômica da sociedade “livre”, mas consistentemente se omitiram de aplicar à economia do controverso estado socialista o mesmo discernimento cáustico que já exibiram em outras análises, nem sempre com sucesso. ‘’
Não digo que não haja casos em que o pensamento e a ordem devam ser direcionadas pensando no coletivismo; jamais disse isso, afinal, políticas públicas e sociais tem características, quase sempre, voltadas, como o amigo leitor deva muito bem supor, para o bem comum de um grupo, com vistas a assisti-lo em sua necessidade imediata.
O erro, na realidade, está em considerar a necessidade de um, como a necessidade de todos. E não é assim que funciona. Detesto relatar o elementar, mas o preclaro leitor há de concordar que existem pessoas que simplesmente ignoram – ou fingem demência – tal questão básica.
Portanto, amigo, nunca é demais atentarmos para os gestores que surgem com similares propostas grupais. Não se deixe enganar, o indivíduo deve prevalecer sobre o coletivo quando este último o conduz à perda da identidade, das características únicas do ser ímpar. Em ano eleitoral, é sempre bom reconhecer os lobos em pele de cordeiro, que posam de preocupados com a humanidade, com ar messiânico, se colocando como a solução socialista (utópica) da vez.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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