Ela me disse que deveria sentir-se oprimida pela sociedade machista. Que não poderia poder fazer nada, pois o homem, sempre opressor, não permitiria. Perguntei se ela era impedida de trabalhar ou de ter uma vida sexual ocasional e ativa. Ela disse que trabalhava e que não sofria qualquer tipo de agressão física e ou verbal no meio trabalhista predominantemente masculino (estranho, não?). Relatou-me que frequentava festas regadas à cerveja e muito sexo libertino com homens e, às vezes, com mulheres. E que não sofrera nenhuma agressão até então.
Ok, garota, então me fale onde reside essa suposta opressão, menina. Quem a vigia, a obriga? – perquiri.
Ela então relatou-me que suas amigas e amigos das rodinhas de bares ‘‘modinhas’’ e corredores acadêmicos lhe falaram sobre, de tal maneira que ela acabou por incorporar tal discurso, mesmo não concordando. “Eu pensei que precisava me engajar. Se não falasse a mesma língua, se não fosse um deles, não seria aceita” – Confidenciou-me a jovem que receava ser expulsa do grupinho pífio, se revelasse quem é e o que pensa verdadeiramente.
A vida é mesmo muito engraçada: esses senhores e senhoras que pregam a pluralidade, a diversidade, são os mesmos que vivem a apontar o dedo para os que não pensam como eles. São os primeiros a condenar, criminalizando o que, sequer, crime é.
‘‘Eu tinha um namorado, sabe?.. – ela continuou – Um sujeito muito inteligente e de concepções precisas, convictas… Troquei-o em meio ao momento idiota em que o nosso país atravessa e mediante a influência dessa geraçãozinha pseudo que, na verdade, são tolos de quinta categoria. Tenho agora um namorado… aliás, tinha… terminei com aquela coisa… um barbudo que, assim como os demais, se acha intelectual porque fuma e grita ‘Fora, Bozo!’’’
Aquela garota estava nitidamente confusa. Sua convivência com aquela gente fez com que ela, coitada, não soubesse bem como se recompor dos efeitos nocivos de um grupo decrépito e alienante.
A jovem precisava urgentemente de um bom copo de vinho. (Não ofereci, receando ser mal interpretado… Com os resquícios dos efeitos, ela poderia achar que eu estaria com segundas intenções.)
Confesso que achei o jeito dela engraçado. A moça se sentia mais livre por e para conversar com quem não pertence ao grupo dos que dizem o que você pode ou não fazer, ser, pensar, dizer, vestir, conversar… Falo dos que te libertam da sociedade machista e opressora, para oprimi-los na sua própria ideia de sociedade e opressão.
Da última vez que a vi (com um livro do Bukowski na mão direita), voltara com seu antigo namorado, cursava Letras, e nem de longe usava aquela vestimenta escrota que em nada a caracterizava. Pelo contrário, a ridicularizava.
Em pensar que “salvei” uma vida em uma hora e quarenta e cinco minutos de conversa liberal. Marx não faria melhor! Liberte-se de grupinhos medonhos. Eles roubam a sua identidade, sua individualidade, e, no lugar destas, os substituem por um emaranhado de asneiras!
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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