Não precisa ir muito longe para testemunhar as agressões sofridas pelo rio Jaguaribe. Nas margens do rio no ‘campo do Esso’, no bairro Joaquim Távora (Prado), são visíveis carcaças de animais, ossadas, vísceras que atraem dezenas de urubus, além do forte mau cheio que toma conta do lugar.
“Infelizmente, essa é a primeira recepção que a gente tem ao chegar aqui. Isso é resultado do abate clandestino, a chamada carne de moita, que é despejada aqui”, denuncia Neto Braga, presidente da Associação de Idosos Santa Edwirgens, entidade que realiza projetos de cunho socioambiental, entre esses o Jardins de Aristóteles, que visa mudar essa realidade. “Fizemos uma barreira, plantamos aqui com alunos árvores nativas, frutíferas na tentativa de barrar o despejo de entulhos e lixo que antes eram jogados atrás da escola Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Já tiramos daqui mais de oito caçambas de lixo de dentro do rio, mas tem muito mais”, destaca Braga, em mais uma caminhada de visita às margens do rio Jaguaribe, dentro do projeto de conscientização e proteção do manancial.
De acordo com Neto Braga, o projeto visa justamente sensibilizar a sociedade sobre a importância da preservação do rio Jaguaribe. As visitas ao rio acontecem de forma rotineira com grupos de estudantes, entidades de ensino, representantes de classes, moradores, igrejas. A mais recente contou com a presença de representantes da CREDE-16, maçonarias, Lions Clube, secretarias do Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário de Iguatu. “O rio Jaguaribe está muito sujo, poluído. Ao chegar aqui, a gente sente um mau cheiro muito forte. É importante esse trabalho que foi implantado aqui em defesa do rio Jaguaribe. Iguatu e população devem apoiar e ajudar, parceria importante essa também com as escolas. Nos colocamos à disposição nesse engajamento”, ressalta o professor Horácio de Carvalho, durante a visita ao rio.
Não só o professor, mas quem acompanhou o percurso margeando o rio, numa caminhada de pouco mais de meia hora, pôde ver a realidade das agressões ambientais que sofre o rio. Emanuele Moreno, integrante do Lions Clube, destacou a importância do reflorestamento da mata ciliar, quando foi notado nas margens do rio uma grande presença de plantas invasoras, entre elas o nin indiano. “Quer dizer que plantas que não fazem parte da nossa flora natural da caatinga estão presentes não só nas ruas, mas infelizmente também é vista aqui no rio. A gente viu uma catingueira bem grande, mas em volta dela dezenas de nin. Ela é invasora, não deixa que outras plantas nasçam, que tem o papel importante de proteger as barreiras do rio. Dentro dessa ação, já sabemos que existem leis e projetos para controle e retirada dessas plantas principalmente de áreas. Por isso são importantes essas ações”.
Caminhada
A caminha dentro do projeto Jardins de Aristóteles envolve conhecimentos de história e geografia alinhadas às questões ambientais. De acordo com Vandeilton Sucupira, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário, a importância da proteção dos mananciais, principal o rio Jaguaribe, é necessária com ações urgentes para reverter essa situação. “Há mais de 20 anos fundamos aqui em Iguatu o Comitê de Bacias, que infelizmente não tem agido com eficácia em defesa do rio. O que tem que ser feito é manter a mata ciliar e desobstruir o leito do rio. Mas o que a gente ver é o contrário. Estamos retirando a mata ciliar e obstruindo o leito do rio”.
Durante o passeio, uma das paradas é em um antigo cacimbão. O poço foi responsável pelo abastecimento da antiga CIDAO – Companhia Industrial de Algodão e Óleo. “Era daqui até a década de 60, antes da existência do SAAE, que toda água era retirada do leito do rio. Quando o período áureo do algodão da CIDAO. A água era bombeada daqui para uma grande caixa d’água, que era usada na CIDAO, nas locomotivas que passavam por lá”, conta Neto Braga.
Gerardo Alves, representante da maçonaria que também participou da caminhada, apontou que através do trabalho inicial com estudantes vai ajudar a conscientização da população, para a construção de uma cidade inteligente, com vida mais saudável em respeito principalmente ao meio ambiente. “O que a gente vê são importantes ações que é a base para a construção de uma vida melhor, para que a gente tenha uma cidade inteligente. Trazer os alunos, as pessoas para conhecer esse desastre ecológico, mostra essa realidade. Através dessa experiência, as pessoas possam se conscientizar e mudar essa realidade. É preciso ir direto na causa do problema, identificar, ir na causa e resolver esse problema”, lamenta.
De acordo com Neto Braga, as ações devem acontecer o ano todo. “Vamos transformar nosso rio Jaguaribe em nossa área urbana numa grande lição, na formação do ser humano. É esse o grande apelo, mas a gente só pode fazer isso se todos nós enquanto sociedade se envolverem em defesa e luta do nosso grande rio”, finalizou.
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