Por Ana Lídia Omena Europeu Duarte*
A atividade científica no Brasil sempre foi marcada por dificuldades estruturais, como falta de financiamento para pesquisa, baixa remuneração e problemas de saúde mental. Além disso, o desconhecimento por parte da sociedade a respeito de como se faz ciência no país e os benefícios da atividade científica para o desenvolvimento nacional é uma realidade.
Uma das consequências da falta de informação é a baixa adesão a movimentos de resistência contra os cortes severos que o setor de ciência e tecnologia tem sofrido durante o governo Bolsonaro.
A dificuldade de se fazer ciência no Brasil hoje tem levado muitos pesquisadores a abandonar a área ou a atuar fora do país. Entre os que persistem no caminho científico, a jornada inclui vários anos de pós-graduação, com dedicação exclusiva e sem possibilidade de exercer um trabalho formal. Sendo que a remuneração em nível de mestrado e doutorado é feita na forma de bolsas, que giram em torno de R$ 1.500 no mestrado e R$ 2.200 no doutorado.
O que já era ruim ficou pior. O governo Bolsonaro agravou o quadro de investimento à pesquisa, tendo feito cortes severos. Além disso, o ex-ministro da educação (Milton Ribeiro), investigado pela justiça por desvio de verbas públicas, declarou que “universidade deveria, na verdade, ser para poucos”.
O pastor Milton Ribeiro não foi o primeiro ministro da Educação do governo Bolsonaro a mostrar seu desprezo às universidades. Seu antecessor Abraham Weintraub as considerava antros de balbúrdia e espalhava fake news sobre extensas plantações de maconha.
Este problema é mais uma gota de desrespeito em meio a um oceano de descaso que Jair Bolsonaro e seu governo têm praticado com a Educação e com todos os segmentos educacionais, a exemplo da pesquisa.
O número de brasileiros na pós-graduação já é bastante inferior aos países desenvolvidos, isso de acordo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os dados também mostraram que apenas 0,8% das pessoas de 25 a 64 anos concluíram mestrado. Piora quando olhamos os números de pessoas que concluíram doutorado, que são apenas 0,2% E apenas 21% dos brasileiros de 24 a 34 anos têm diploma universitário, índice inferior a países como México e Costa Rica.
Lamentavelmente, quando a situação econômica do Brasil se agrava, a pesquisa é uma das primeiras a ser sacrificada. O cálculo é o resultado das prioridades de um governo que, desde o primeiro dia, se mostrou avesso à educação e a todos os seus segmentos.
Diante destes cortes de investimento, perdemos nossos melhores pesquisadores para o estrangeiro, esses pesquisadores que irão contribuir com produção científica para outro país, vão exportar esse conhecimento para o Brasil, como exportaram as vacinas do Covid.
O governo elitizou ainda mais a pós-graduação no Brasil, sem poder trabalhar e sem bolsas, pouquíssimos estudantes conseguirão se dedicar de 5 a 10 anos na carreira científica, sem nenhuma remuneração. Quem perde com tudo isso? Eu, você e o Brasil como um todo, que perde em inovação, em desenvolvimento, em pesquisadores brilhantes e perde na economia.
*Pesquisadora, bacharela em Direito pela Faculdade Raízes de Anápolis, Goiás,
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