Luís Sucupira é repórter fotográfico, jornalista (MTE3951/CE) e escritor.
A história da foto se passa em 21 de dezembro de 1989 e é uma das minhas favoritas. Senta que lá vem história e da boa!
O fotógrafo francês Jean Guichard se especializou em imagens de faróis sobrevoando La Jument (que em português quer dizer ‘Égua’). Nesta foto ele estava em um helicóptero em um dia de forte tempestade procurando a foto perfeita daquelas gigantescas ondas do Atlântico batendo a estrutura do farol. Acontece que lá dentro, o faroleiro Theophile Malgorn, que tinha trinta e poucos anos à época, ouviu as repetidas passagens do helicóptero e pensou que algo estranho poderia estar acontecendo e resolveu sair. Ele pensava que o piloto estivesse tentando contatá-lo sobre um naufrágio ou algum acidente no meio daquela tempestade toda. E numa atitude meio doida, abriu a porta para ver o que estava acontecendo.
O farol La Jument é uma das lanternas marítimas mais espetaculares da costa francesa e fica a dois quilômetros do interior da ilha de Ouessant e foi construído entre 1904 e 1911 para sinalizar alguns baixios extremamente perigosos, onde muitos naufrágios já ocorreram.
A maravilha do olhar e da sensibilidade do fotógrafo, em um helicóptero, naquela tempestade toda durou apenas os segundos que ele precisava para fazer essa foto histórica. Guichard viu aquele homem na porta e seu instinto de fotógrafo lhe disse que ali havia uma composição perfeita: o homem e a força da natureza. Ele começou a filmar sua câmera no modo burst quase ao mesmo tempo em que uma nova onda gigante começou a abraçar a estrutura do farol com toneladas de água para arrebentar tudo.
Naquele exato momento, o faroleiro Malgorn – inclinando-se para fora da porta – ouviu um trovão seco, uma pancada brutal resultado do impacto da onda contra a frente do farol e viu que havia cometido um terrível erro.
Tão rápido quanto ele abriu, ele fechou a porta! Foi um milésimo de segundo antes que a onda varresse tudo, a diferença entre a vida e a morte que estaria registrada pelas lentes de Jean Guichard. Foi um milagre continuar vivo e escapar de uma onda com essa força toda. Na bobina da câmera de Guichard foram impressas apenas 9 imagens. Foi o que a câmera teve tempo de filmar e essas imagens o tornaram famoso por toda a vida e com as quais em 1990 obteve o segundo prêmio no World Press Photo.
Mas existem faróis ainda mais perigosos. O farol de Kéréon é cercado por correntes que formam ondas muito perigosas. Em 1974, por exemplo, durante uma tempestade, ondas gigantescas chegaram a cobrir o farol, que tem 48 metros de altura, e arrancaram a cúpula luminosa. O mais antigo é a Torre de Hércules, Corunha, Espanha. Construído há cerca de 2 mil anos pelos antigos romanos, este é o farol mais antigo do mundo em funcionamento. O monumento, que está situado na costa noroeste da Espanha, é um Patrimônio Mundial da UNESCO.
Ah! Quer saber sobre o faroleiro? Theophile Malgorn ainda vive nesta ilha de Ouessant.
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