“A poesia está morta, mas juro que não fui eu”.
(José Paulo Paes)
Parei de lecionar há mais de sete meses. Graças a Deus, ninguém me pergunta se tenho saudades da sala de aula – isso se deve, é verdade, ao fato de eu não conversar com muita gente.
Nesse ínterim, fui chamado duas vezes à antiga função: ministrei uma aula num cursinho pré-vestibular e uma palestra para alunos da rede estadual. Num e noutro caso apenas confirmei o que já sabia: não sinto uma mísera falta, uma ínfima saudade do tal “chão” escolar e pedagógico.
Entretanto, aqui e acolá, acompanho relatos de professores.Um desses relatos me chamou a atenção. Um professor escreveu em seu blog que, em meio a uma aula de biologia, um aluno faz a seguinte pergunta: “Professor, quem é Jô Soares?”. À maneira de Sócrates, o professor respondeu com outra pergunta: “por que você me pergunta isso?”. Foi nesse momento que o professor tomou conhecimento da morte do Jô.
Não vou aqui chover no molhado ou enxugar gelo. Todos nós já ouvimos falar na tal morte da cultura. Que a garotada de hoje não sabe mais quem é quem, não conhece os grandes vultos que marcaram época, construíram nossa história etc e tal. O que me pôs à pena foi a seguinte reflexão.
E se esse aluno, que desconhece totalmente um personagem tão importante para a cultura como foi e sempre será o “gordo”, vir a ser muito mais conhecido, ter muito mais fama que o próprio Jô? E se ele conseguir, como youtuber ou coisa que o valha ganhar uma grana muito mais graúda, obter muito mais reconhecimento, no nosso tempo, do que o ilustre apresentador obteve em vida? Ou não passa pela cabeça de ninguém que isso já está acontecendo?
É o que se vê nas galhofas, nos famigerados “memes”, nas ditas brincadeiras entre estudantes, brincadeiras estas que escondem uma angústia latente: e se tudo isso não adiantar de muita coisa?
E essa angústia não é compartilhada apenas por eles. Ela é sentida por seus professores, que se veem cada vez mais substituíveis por um showman qualquer do YouTube, em vídeos de até oito minutos.
Esses dias, enquanto expunha meus livros no centro, um senhor me disse: “Ninguém mais lê no Brasil”. Mentiria se eu dissesse aqui que isso me desestimulou. Vejo narizes torcidos para a leitura e o estudo desde que me entendi leitor. Até mesmo dentro da família. Eu vivo no Brasil.
Portanto, o atual desânimo em relação à cultura não me põe em cenário novo. Muito pelo contrário. Observar, também, ditos estudantes que não querem nada com o estudo não me traz alarde. Não rezarei missa de morte muito antiga. Nem salmodiarei contra a prosperidade dos inaptos.
Disse que não sentia saudades de dar aulas e pareço, talvez, arrogante. Mas não é o caso. Não sinto falta porque fiz o que pude. Sugeri sem impor. Mostrei o caminho sem empurrar. E digo mais: a boa semente sempre dará seu fruto. Isso eu sei.
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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