Durante a realização da 57ª EXPOIGUATU, no início deste mês, a presença de uma raça de caprinos com ‘lã’ chamou atenção de outros criadores e visitantes. Muitos sequer sabiam que a raça de caprino Angorá existia. Outros, assim como o próprio expositor e colecionador de caprinos Vandeilton Sucupira, pensavam que a Angorá não existia mais.
A cada edição da exposição iguatuense, Vandeilton leva animais de raças distintas. “A exposição é uma vitrine. Todo mundo que cria, que gosta, participa. A grande vantagem da exposição não é nem a quantidade de animais, e sim a diversidade, justamente para as pessoas que vêm ver os animais terem essa diferenciação, essa diversidade de animais. Meu propósito sempre foi esse. A pessoa traz o que tem de melhor em seu plantel”, ponderou Vandeilton Sucupira, criador de caprinos, que entre as raças apresentadas neste ano trouxe cinco exemplares da Angorá. “ A raça Angorá, inicialmente quem não conhece, acha até que são ovelhas pela grande pelagem, mas não, são caprinos mesmos. Eu consegui esses cinco exemplares de um criador da Bahia. Para muitos já estavam até extintas. Eu como sou selecionador de raças, principalmente animais entre esses Canindé, Moxotó, consegui agora a Angorá”, apresentou os animais.
Sobre a raça, Sucupira ressaltou que esses animais tinham até mesmo dado como extinto, por não se ter mais informações sobre criadores e nem registro da raça. “Como criador, como selecionador de animais, a gente fica muito triste quando vê uma raça desaparecer, então a gente não pode perder essa genética. A gente acredita que todos os animais têm suas importâncias genéticas, cada um com sua aptidão. Então o pessoal hoje, normalmente, só vê o lado financeiro, o animal que dá lucro, e rápido. E os animais aparentemente que não dão lucro, mas têm um potencial genético muito grande que podem ser usados no cruzamento de outras raças, acabam mesmo desaparecendo por não terem um valor comercial”, afirmou.
Genética
O criador acrescentou ainda que por ser colecionador, amante das raças caprinas, gosta de pesquisar e fazer esse tipo de resgate. “Do Angorá, há 12 anos ninguém registra um animal na Associação Brasileira. A gente até pensou que não tinha mais. Mas acabei encontrando um criador que me cedeu cinco animais. Eu pretendo com esses animais levantar um rebanho, para não deixar acontecer com outras raças. Eu já estou providenciando a volta deles para registrar”, acrescentou. “São raças, como a Angorá, a Mambrino, Repartida, animais que se a gente não cuidar acabam sendo extintas e a gente pode perder esse banco de genética”, explicou.
As exposições justamente têm essa intenção, quando criadores aproveitam a oportunidade para mostrar o que tem de melhor em suas propriedades, seus plantéis. A EXPOIGUATU é um evento que se tornou referência na região com a apresentação que sempre traz novos e criadores veteranos. O criador e produtor rural Adail Alves, de Quixelô, também levou uma importante raça para expor: a Somalis Brasileira, raça de ovinos. “A retomada da EXPOIGUATU foi muito boa. Um grande incentivo. Recebemos todo apoio, além de uma boa organização e assistência por parte da coordenação. Eu crio a Somalis Brasileira, uma raça rústica, adaptada as nossas condições, as nossas realidades do sertão nordestino. É uma raça muito precoce. Além da beleza do animal. Passei a criar a somalis para manter essa tradição. Meu somalis é do plantel do saudoso Diógenes Neto, melhor selecionador dessa raça no Brasil. Infelizmente ele foi se foi, uma das vítimas da pandemia da Covid, mas estamos aqui para dar continuidade a esse legado, com a criação de animais de PO, puro de origem”, destacou o produtor.
Saiba mais
A raça Angorá foi introduzida na Bahia, em 1932. Essa raça de caprinos é conhecida há 2400 anos a.C., originária de Angorá, na Anatólia ou Ankara, na Turquia asiática, onde também são criados os gatos “Angorá” e os coelhos “Angorá”, todos de renome mundial, devido ao comprimento, finura e maciez dos seus pelos. Existem apologistas até hoje frisando que os mestiços são de excelente aptidão para corte, embora não se conhecem detalhes sobre sua produtividade. De porte médio e pequeno de 50 a 60 cm na fêmea e 60 a 70 macho com peso de 30 a 55kg na cabra e 50 a 75 no bode.
A raça Angorá agrada pela docilidade, pela presença de longos pelos, pela graça de seus traços. E uma raça que inspira simpatia. Não existe um contingente suficiente para ser preconizada como melhoradora. Também é pouco explorada nas regiões de clima temperado e frio do sul do país. De cor branca, admitindo o tom prateado ou amarelado, apresenta pelos sedosos de 20 a 30 cm de comprimento, cobrindo todo o corpo, com exceção do focinho, do chanfro, orelhas e extremidades dos membros. Produz até 3Kg de lã.
Já a Somalis Brasileira pertence ao grupo dos ovinos de “garupa gorda”, originário do “corno da África”, região formada pela Somália e Etiópia, tendo como ancestral remoto o ovino Urial. O Somalis Brasileiro já se afastou bastante do tronco original, sendo mais prolífero, de garupa menos gorda e com alguma lã pelo corpo, o que sugere ter havido muita infusão de raças sem garupa gorda e com alguma lã.
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