DEMOCRACIA: Quem lembra das Diretas Já?

08/10/2022

Luís Sucupira é repórter fotográfico, jornalista (MTE3951/CE) e escritor.

Eu nasci em 1964, quase quatro meses depois do golpe de estado. Anos depois eu pude, aos 19 anos, participar do movimento das Diretas Já. Era um momento de esperança. Nós queríamos o fim da Ditadura, eleições livres e democráticas, mas a luta de milhões foi boicotada pela Globo e pelos militares. Foi uma frustração grande e tempo depois Tancredo morre e assume Sarney. Em 1984, aceitou a proposta de se candidatar à Presidência da República e em 15 de janeiro de 1985 foi eleito presidente do Brasil pelo voto indireto de um colégio eleitoral por uma larga diferença – 480 votos (72,4%) contra 180 dados a Maluf (27,3%).

As maiores lideranças das Diretas Já eram políticos, artistas e intelectuais que desde o golpe de 1964 lutaram contra os militares no poder. Tiveram suas carreiras políticas interrompidas, foram presos ou exilados ou fizeram dos seus mandatos uma resistência, como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Franco Montoro.

Os primeiros comícios pelas Diretas começaram em 1983, mas não tinha muita gente. O povo tinha medo, mas Goiânia foi a primeira capital a sediar um comício. Foi na Praça Cívica, centro da capital goiana, na noite do dia 15 de março de 1983. O primeiro passo estava dado e pouco depois milhões foram às ruas pelas Diretas.

A “Emenda Dante de Oliveira” foi votada pelo Congresso Nacional no dia 25 de abril de 1984. A população que ativamente participou dos comícios pelas Diretas agora aguardava o resultado final, que foi transmitido ao vivo pela televisão. Mas os militares não deixaram.

Dante de Oliveira era deputado federal pelo PMDB de Mato Grosso do Sul e foi o responsável pela elaboração do Projeto de Emenda Constitucional (PEC 05/1983) que propunha a alteração na Constituição para permitir que as eleições presidenciais de 1985 acontecessem de forma direta, ou seja, pelo voto popular. Para que essa proposta se efetivasse, era necessária a aprovação pelo Congresso Nacional por 2/3 dos parlamentares. Não conseguiram.

O mais ferrenho adversário das Diretas-Já era Paulo Maluf (PDS), que se considerava imbatível nas eleições indiretas em 85. Perdeu para Tancredo Neves. Também amargou sucessivas derrotas em diretas para a Presidência da República (89), governo de São Paulo (86, 90 e 98) e prefeitura paulistana (88). Conseguiu eleger-se, no máximo, prefeito de São Paulo (92).

Nas projeções que se faziam à época, com base nos aplausos dos milhões de pessoas que participavam de comícios no país inteiro, os candidatos às primeiras eleições diretas seriam Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Leonel Brizola (PDT) e Ulysses Guimarães (PMDB). Os três tentaram, mas nenhum chegou lá. Lula perdeu três vezes nas eleições presidenciais (89, 94 e 98) e Brizola, duas (89 e 94).

Depois da ascensão de Sarney, o primeiro presidente eleito diretamente depois da campanha das Diretas-Já, em 89, não foi nenhum dos líderes daquele momento, nenhum político tradicional e nem mesmo um líder popular. Foi o ex-governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, que foi deputado federal entre 84 e 85. Votou a favor das diretas sem se envolver com elas e depois votou em Paulo Maluf para a Presidência, contra Tancredo.

Por que é muito importante defender a Democracia? Porque deu muito trabalho, custou muitas vidas, torturas, prisões, exílios e censura. A imprensa lutava contra a Ditadura, mas tinha outra parte, que ainda existe, que defende a volta ao passado. Em 2018, fiz uma postagem nas minhas redes sociais dizendo que a partir daquele ano teríamos um longo passado pela frente. Eu queria estar errado, mas a volta da fome e outras tantas regressões confirmaram meu temor.

A anistia ampla, geral e irrestrita que foi a moeda de troca para as eleições diretas para presidente, manteve vivas as almas da Ditadura e elas voltaram a nos assombrar através de fake news, golpe parlamentar para fazer o que sempre quiseram – a volta ao passado que eu vi e vivi e ela teria um nome – Jair Bolsonaro, um ex-militar preso por atentar contra a própria farda e condenado. Tinha corrupção, como agora continua tendo, mas não se podia divulgar. Antes era censura, agora cem anos de sigilo e troca de investigadores. Voltamos a um passado por culpa de nós mesmos.

Eu só consigo escrever estas linhas porque estamos numa democracia. Se não fosse assim eu e vários jornalistas colegas meus estariam presos, mortos ou exilados e este jornal seria fechado.

Chegou a hora de defender novamente essa luta. Passou da hora de sepultar os fantasmas da Ditadura e seguir em frente para voltar a construir uma grande e justa nação chamada Brasil.

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