Chuvas em novembro proporcionam cheia no rio Jaguaribe

12/11/2022

As chuvas registradas recentemente neste início de novembro, nas regiões Centro-Sul, Cariri e Inhamuns, contribuíram para um momento raro: o rio Jaguaribe apresentou cheia atípica neste período. Pelas boas precipitações nas cabeceiras com registros de mais de 100mm, segundo moradores, já era esperado um aumento do volume hídrico do rio, mas muita gente foi pega de surpresa com as primeiras águas que chegaram por aqui, ainda na noite da quarta-feira, 9, na região do distrito de Gadelha.

“Como o rio ainda tinha água, o lençol freático estava com muita água por conta do último inverno. Essas águas estão passando com destino ao açude Orós. Um cenário desses já tinha acontecido no ano de 1989, época em que o Orós sangrou duas vezes. A primeira vez em maio, no inverno, e a outra vez foi de novembro para dezembro”, relembra Marciano Macedo, “Baião”, como é conhecido o vereador e morador do bairro Fomento.

Logo nas primeiras horas da quinta-feira, 10, muitas pessoas aproveitaram para ir ao rio, mais precisamente na passagem entre o Gadelha e o bairro Fomento. No local, há uma estrada que é utilizada para encurtar a distância até a sede do município. “Encheu muito rápido. Eu vim pensando que dava para passar, mas não. Só de balsa. Vou ter que ir por fora, rodar 15km até o Gadelha”, disse um agricultor, enquanto fazia o retorno na motocicleta para pegar a estrada de volta. “Esse trecho é muito movimentado. Enquanto a água não baixar, a passagem por aqui só de balsa”.

Logo no início da tarde, alguns agricultores, que costumam trabalhar fazendo a travessia das pessoas pelo rio, colocaram as balsas na água para ganhar dinheiro extra fazendo o transporte de pessoas, motos, bicicletas e mercadorias. Eles cobram R$ 2,00 por pessoa.

Chuva e queimadas

“Esse é um fato raro de acontecer. Como disse, só tinha visto em 89, quando o Orós sangrou duas vezes, em maio e de novembro para dezembro. Mas sabemos que o nosso Nordeste vem sofrendo com essas mudanças climáticas. Ainda estamos saindo de uma seca que durou por mais de oito anos seguidos. Isso também mostra o desequilíbrio ecológico que vivenciamos no nosso planeta, que vem causando essas diferenças de climas, essas enchentes que presenciamos em Pernambuco, Rio Grande no Norte, Bahia. Vemos que por um lado é bom, porque a água para o nordestino é vida, faz a gente produzir, abastece o lençol freático, mas por outro, esses desmatamentos, essa degradação do meio ambiente, os incêndios florestais estão causando e vão causar ainda mais problemas não só agora, mas para nossos netos, para futuras gerações”, pondera Baião, afirmando que é preciso trabalhar a conscientização, preservação e reconstrução do meio ambiente.

“Essa região nossa aqui, Fomento, Gadelha, Barro Alto, Quixoá, é chamada de oásis do Iguatu porque durante os dois períodos do ano, tanto no primeiro quanto no segundo semestre, produzem o ano todo. Mas, outro fator que tem preocupado são as queimadas, esses incêndios que vêm acontecendo. Esta semana discutimos na Câmara Municipal esse assunto que além da poluição vem causando um mal grande para a fauna, flora. A gente tem que conscientizar a população para que realmente tenha consciência que toda essa agressão contra a natureza um dia ela vai devolver. E já estamos vivendo os problemas com toda essa degradação e incêndios na mata nativa. Vamos cuidar para que nossas futuras gerações não tenham um mundo pior do que já estamos vivenciando”, complementa o morador com a expectativa que o açude Orós, que está com 45% da capacidade de armazenamento, atinja sua capacidade total. “Esperamos que em 2023, no período de inverno o Orós chegue a sangrar. Vai trazer fartura, trabalho e movimentar o turismo para nossa região”.

Monitoramento

De acordo com Cieudo Silva, observador pluviométrico do rio Jaguaribe, o aumento do volume hídrico do Jaguaribe foi devido ao um grande volume de chuvas em um curto período de tempo, que acabou proporcionando o transbordamento de pequenas barragens e açudes na região de cabeceiras do rio. “Nesta sexta-feira, 11, o rio estava com 2 metros e 7 cm. Essa chuva fora do inverno contribuiu para esse aumento. Isso é muito bom. Esperamos que venha também muita chuva no período do inverno”, disse Silva, que monitora o comportamento das águas do rio das onças duas vezes, diariamente, às 7h e às 17h. Os dados coletados são enviados para a Agência Nacional das Águas (ANA) e para a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM).

Segundo estudos do Instituto Nacional de Meteorologia – Inmet, os sistemas atuais, que contribuem para as chuvas recentes, têm influência da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Já na quadra chuvosa predomina a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e os Vórtices Ciclônicos de Altos Níveis (VCAN).

 

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