Quando pequena, minha preferência era pela escola. Eu sentia um deslumbramento por tudo que fazia parte daquele universo, que para mim era fantasioso. Talvez tenha sido o meu primeiro amor. E foi tão forte que decidi ser professora. Nunca me esqueci da primeira escola.
Vejo a escola como o espaço de possibilidades, ainda com o encantamento de outrora. Quando vou em alguma escola e vejo todo aquele dinamismo, minha experiência sensível me transporta para além do que vejo. Primeiro olho, depois sinto. Ao percorrer os corredores de uma, parece que estou num templo sagrado. E talvez seja mesmo. As escadarias, os longos corredores, a textura das paredes, as cores, os murais, o vai e vem de tanta gente, as vozes de tantas outras. Tudo me atrai.
O tempo passou e não perdi minha capacidade de encantamento, de alegria ao entrar numa escola. Não é apenas pela estrutura física, mas pelo que lá dentro se ensina e se aprende. O saber sendo construído por tantas vozes abre a mente. Não há lugar para ficar solitário na escola, e mesmo que alguém ficasse, haveria de ter a companhia dos livros. Que boniteza é ver o menininho ou a menininha querendo ir para a escola!
Cresci dentro de uma escola e tenho visto atualmente um sistema de ensino que encarcera a criatividade. Não há tempo para sonhar, para voar. Tenho receios de escolas que não motivam a curiosidade. A escola virou espaço de cobrança, de excessivas atividades que dopam os(as) alunos(as), deixando a criatividade adormecida e a leitura ignorada. Seguindo essa linha, o(a) estudante vai sendo transformado num produto para entrar no mercado de trabalho e viver na “servidão voluntária”.
Nestes últimos tempos, mantendo uma relação mais amiúde com professores(as) e alunos(as), tenho percebido que a escola é o lugar das coisas chatas, sobretudo quando a aprendizagem só tem uma finalidade, passar no Enem ou no vestibular. Está faltando na escola o despertar para a criatividade, a fantasia, a poesia. Mais do que adquirir habilidades é preciso sensibilidade para saber experimentar o espetáculo da vida.
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