Socorro Pinheiro
Já dizia Platão que para ensinar precisa-se de Eros, de amor. Sem paixão fica muito difícil ensinar. Bem sabemos que sem energia erótica somos facilmente absorvidos por ideias e sentimentos desagradáveis. E sendo assim, ninguém consegue ir muito longe, pois logo a tantálica tristeza nos invade.
Quando Platão se referiu ao Eros pedagógico não insinuou que trabalhássemos voluntariamente porque amamos os alunos, gostamos do que fazemos, mas que precisávamos ser possuídos pelo desejo, pela paixão de ensinar. Como viver o Eros pedagógico quando vemos o desrespeito ao trabalho do professor? Como reagir diante de discursos que querem nos idiotizar e nos silenciar?
A fala da secretária estadual de educação da Bahia, no dia 09 de fevereiro de 2023, propondo aos professores um trabalho voluntário em retribuição à entrega de uma escola em tempo integral, pelo governo estadual, é um exemplo da desvalorização do professor. Mas que proposta indecente! Este argumento nos chama atenção para a precária dinâmica estrutural que assola a vida do professor.
Tal comportamento demonstra a falta de reconhecimento do trabalho docente. Seu tempo de estudo, seus longos períodos de formação, suas muitas horas de planejamento não são levados a sério. Coisas assim na esteira da mediocridade de tantas pessoas, de reformas de ensino que pouco mudam a aprendizagem, de governos que tecem na educação um sistema “tecnoeconômico”, de gestores controladores, de famílias que entendem que o ensino é decoreba, causam um profundo desinteresse pela profissão.
Mesmo estando Eros em momentos de crise, precisamos resistir e resgatar nossa paixão, criar outras rotas e seguir em frente. As crises estimulam a criatividade, nos possibilitam a viver o agora. Pois bem, vivamos o agora! Porém, conscientes de que este tratamento dado ao professor e esta forma de ensino na direção da mercantilização da educação têm efeitos socialmente drásticos.
Esperamos que seja dado outro tratamento ao professor, que os discursos sejam de reconhecimento, de valorização, de respeito. Não se pode brincar com o ensino, que tem em seu epicentro as condições para mudar a sociedade e que o professor é aquele que nos desperta, nos aponta, nos conduz pelos rosais e pelos amanhãs. O professor tomado pela força de Eros faz seus alunos ver outros sentidos para vida. A deserotização pedagógica leva o professor ao tédio e ao cansaço.
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