Cristina Michelle Pinheiro de Souza Alcântara, 33, voltou na terça-feira, 28, para casa, na cidade de Piquet Carneiro. Ela estava internada no Hospital Regional de Quixeramobim, para onde havia sido levada, após ser resgatada num barco por moradores voluntários da região, entre os municípios de Piquet Carneiro e Senador Pompeu, na manhã da segunda-feira, 27, após uma madrugada de horror, quando o carro em que ela viajava foi arrastado pelas águas de uma enxurrada, devido ao arrombamento de um açude na região. O acidente aconteceu na localidade de Fonte Pantheon, na rodovia CE-166 que liga Piquet Carneiro a Senador Pompeu. A violência da ‘tromba d’água’ foi tanta que o trecho da estrada foi inteiramente levado.
Segundo o relato de moradores, em alguns lugares as chuvas ultrapassaram 160 milímetros. Cristina Michele é coordenadora do Cadúnico e do programa Bolsa Família do município de Piquet Carneiro. Ela estava viajando a trabalho para Fortaleza quando o incidente aconteceu.
O corpo do motorista do carro, um automóvel Spin Branco, pertencente à Secretaria de Assistência Social, Antônio Hildernando Nunes Silva, ‘Nando’, 27, que estava desaparecido, foi encontrado sem vida, também por voluntários, na tarde da quarta-feira, 29, a cerca de 1km do local de onde o veículo foi arrastado. O carro já havia sido localizado antes. Uma grande mobilização vinha acontecendo desde a madrugada da segunda-feira, 27, envolvendo Corpo de Bombeiros, Policia Militar, Defesa Civil e até helicóptero da CIOPAER.
A notícia deixou a população de Piquet Carneiro e principalmente a família de Hildernando com um misto de tristeza e alívio, pois havia uma angústia instalada em face do motorista que estava desaparecido. Hildernando era servidor público do município de Piquet Carneiro. O corpo dele foi levado para o IML de Quixeramobim, e após o exame de necropsia para identificar a causa da morte, foi liberado para o velório e sepultamento, que aconteceu no distrito de Ibicuã, sua terra natal.
Apesar de estar emocionalmente abalada, tendo dificuldades até para dormir, Cristina Michele aceitou conversar com a reportagem do A Praça exclusivamente para esta edição.
A Praça – Você lembra do que aconteceu nos minutos finais que antecederam o acidente?
Michele – Estava chovendo muito forte, o limpador de para brisa estava no máximo, o motorista estava indo devagar. Não estávamos conversando na hora, não vi a água, só senti o baque no carro.
A Praça – O que aconteceu quando o carro foi atingido pelas águas, era um volume muito grande?
Michele – Era uma correnteza muito forte, ouvi dizer depois que um açude grande, que passava por ali, havia se rompido. Somente depois que as águas baixaram era possível ver o estrago na pista.
A Praça – Como você conseguiu sair do carro e não ser tragada pelas águas? Em que local exato aconteceu?
Michelle – Me disseram que o local se chama Phanteon, ou perto da Fonte Phanteon, me disseram que é uma fonte. Deve vender água, mas não sei te dizer exatamente. O que sei é que é entre Piquet Carneiro e Senador Pompeu. Eu não sei nadar de forma alguma, fiquei apreensiva demais quando o carro foi levado, por isso pensei em descer na correnteza dentro do carro até enquanto pudesse, mas com o corpo metade fora, metade dentro pela janela. Logo o carro imergiu e a correnteza me levou para fora, bebi e aspirei muita água, mas minhas mãos tentavam tocar algo, quando enfim peguei um galho fino e me puxei para cima. Depois disso fui me segurando nos galhos finos até chegar em um tronco mais forte de jurema, que pudesse me aguentar na correnteza forte.
A Praça – Onde você ficou até o resgate chegar? Por quanto tempo você permaneceu no local?
Michelle – Fiquei num local, acho que era numa área de vegetação. Fiquei a madrugada inteira, ainda na chuva, de 3h30 a 7h, quando fui resgatada por populares em um barco, graças a Deus.
A Praça – Qual foi sua última visão do Nando?
Michelle – Ele pulou primeiro, assim que o carro começou a ser levado, foi só que vi.
A Praça – Como você está emocionalmente?
Michelle – Ainda estou muito abalada mentalmente. Não consigo dormir desde o ocorrido.
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