O sol não tinha ainda nem surgido quando a igreja da Vila Centenário foi aberta. Na calçada, mesas e cadeiras foram colocadas para receber o público, a maioria idosos moradores da própria comunidade que, logo cedinho, aproveitaram o último dia de festa dedicada ao padroeiro da comunidade para aproveitar todo esse momento festivo.
O café foi partilhado. Cada um levou de casa uma guloseima. Teve também café, leite e suco. Foi montada uma mesa farta. A data 29 de junho é a mais esperada pela comunidade. De acordo com a tradição, é dia de acender a última fogueira dentro dos festejos juninos. E por ser o último dia de festejo, a programação foi bem mais além da alvorada festiva, momento de oração da manhã ao meio-dia, salva festiva. A tradicional procissão pelas ruas do bairro com a imagem do santo padroeiro foi às 18h30, seguida de Missa Solene presidida pelo pároco José Leandro.
Para o conselho que dirige a igreja de São Pedro, foram intensos dias de movimentação e trabalho que antecederam o novenário. “Mas foi gratificante. É puxado, cansativo, mas ao chegar ao final de uma festa assim tão bonita e participativa todas as noites é gratificante. Estamos há 45 anos de Festa de São Pedro e há 50 anos de nossa comunidade. É terminando uma festa e já pensando no jubileu”, comemorou o jovem João Francisco, coordenador da capela. Ele disse ainda que ao lado de toda equipe dirigente e do pároco José Leandro foi possível realizar a tradicional festa religiosa em Iguatu. “Nosso padroeiro é um padroeiro muito forte, foi confiado pelo próprio Jesus Cristo as chaves do Reino de Deus e também foi o primeiro Papa a pastorear os primeiros rebanhos cristãos. Nosso padroeiro guerreiro que lutou nas primeiras comunidades cristãs para assim fazer o Evangelho de Deus ser conhecido, amado”, ressaltou João Francisco, agradecendo em nome do Conselho Comunitário de São Pedro o apoio de todos para a realização do festejo.
Luta, união e fé
Francisca Ferreira Holanda, carinhosamente chamada por Chica do Padre, é uma das moradoras mais queridas da Vila Centenário. Ela conta que a Vila surgiu pela união dos moradores de Iguatu na época, sempre fortalecida por essa forte religiosidade. “A Vila Centenário surgiu em 1974, devido à grande enchente no rio Jaguaribe. Na época o prefeito Adil Mendonça, a Diocese e a Caritas, na pessoa de dom Mauro, nosso primeiro bispo, fizeram o resgate das famílias e ficaram nos dando assistência aqui na comunidade. Naquela época a gente estava em vulnerabilidade social e precisa muito de ajuda, e principalmente da presença de Deus. Foram criados vários grupos e fomos lutar por moradia, saúde, educação e pela construção da nossa capela. Ainda hoje a gente continua nessa mesma luta, mas o bairro cresceu muito. A gente considera isso aqui uma minicidade produtiva. Aqui teve tudo, ainda mais muita gente trabalhadora, solidários, amigos”.
De acordo com o produtor cultural Michel Prudêncio, que tem estudado e pesquisado essas tradições festivas religiosas, “É um momento muito místico também para o nordestino que celebra neste mês de junho a festa do milho, da agricultura, o clima fica diferente principalmente aqui no sertão. É uma maravilha e a gente sempre celebra bastante os santos do mês de junho. É uma festa muito antiga para a humanidade, muitos elementos foram incorporados na cultura cristã: a fogueira, a procissão e outras situações de aglomeração de gente em prol da religião nessa época do ano e São Pedro finaliza esses festejos”, destacou.
A festa de São Pedro na Vila Centenário para os moradores reforça a união e a fé da comunidade.
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