1971 – Iguatuenses enviam cartas para o presidente Médici denunciando corrupção na prefeitura

05/08/2023

Naiara Leonardo Araújo (Doutoranda em História Global pela Universidade Federal de Santa Catarina/ bolsista CAPES. Pesquisas nas áreas de interesse: cinema e história; cinema e educação; história de Iguatu)

Encontram-se disponíveis no acervo digital do Arquivo Nacional alguns documentos do então Serviço Nacional de Informações (SNI), agência de Fortaleza, de caráter confidencial, destinados a investigar as práticas de corrupção na prefeitura de Iguatu, durante a gestão de Erasmo Rodovalho de Alencar. O processo, com data de 15 de maio de 1973, contém cartas enviadas por funcionários da prefeitura denunciando demissões para a contratação de seus parentes, atraso nos pagamentos, negociatas, roubos e infidelidade partidária – o prefeito era filiado ao então partido ARENA/CE. O processo investiga ainda a compra de um automóvel Dodge Dart, desviado para uso pessoal e de seus amigos, mas comprado com verba municipal, no valor de Cr$ 40.000,00. A esta altura, o prefeito já havia concluído seu mandato e concorria para cargo eletivo no Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, do Ceará, de acordo com o documento.

Segue abaixo transcrição da correspondência enviada, em 14 de abril de 1971 com destinatário para o presidente da República, Emílio Garrastazu Médici:

Carta 1

“Iguatu, 14 de abril de 1971

Exm* Sr. General

Emilio Garrastazul Medici

[?] Presidente da República

Sou funcionário da Prefeitura desta cidade, e diante disso, cumpri-me comunicar a V.Excia que os negócios desta prefeitura, não estão andando bem, o Sr. Prefeito ao assumir o cargo demitiu muita gente para dar lugar a nomeação de seus irmãos e cunhado para assim poder resolver seus negócios a contento. O Sr. prefeito é um comerciante e trata-se de uma firma praticamente falida e devendo muito tanto nos Bancos, sudene, etc. dizem também que ouve grande negociata entre o atual prefeito e o anterior, para não ser descoperto os roubos, tudo parece que isso aconteceu, porque eles eram inimigos e de um momento para outro se tornaram amigos, dizem que essa amizade foi a troco de dinheiro.

Sou funcionário efetivo, mas coloco aqui o meu nome porque sou pequeno, porém, pode mandar um oficial do glorioso Exército para apurar essas história, que encontrara a veracidade de minhas palavras, digo do Exército, porque é só onde tem homem que não se troca por dinheiro.”

 

Carta 2

“Iguatu, 31 de maio de 1971 Exmo.

General: Emílio Garrastazu Medici

M.D. Presidente da República

Sou funcionário da prefeitura desta cidade e conhecedor das tramas praticadas pelo prefeito atual, cujo o nome é Erasmo Rodovalho.

Levo ao conhecimento de V. Excia para as devidas providencias, porque vejo hojê o Brasil se moralizando, tendo a frente desta nação V. Excia, que está procurando endireitar nossa Pátria.

O Sr. Prefeito, recebeu a verba de 50 [?] mil cruzeiros para a merenda escolar, e essa importância desapareceu sem nenhuma explicação, deixando assim, de cumprir com o seu dever; para comprar um automovel de luxo, para a prefeitura, diz êle, entretanto o luxuoso dorge; esta servindo somente para seus passeis e emprestar aos seus amigos, entre eles o Sr. [?] funcionário do Banco do Brasil, com quem mantém grandes negócios em segrêdo; como também há poucos dias foi passado um cheque da prefeitura no Banco do Brasil na importancia de 17.500,00 mil cruzeiros, para as mãos do sr [?], o qual teve entrada lá no Banco do Brasil, no dia 20-5-71, cheque de compensação…

O [?] desse cheque esá constando aqui na prefeitura como se fosse uma compra feita para a prefeitura, que na realidade nada disso aconteceu.

Foi também feita uma limpeza no prédio da Cadeia Pública desta cidade e foi feito um jogo tão bem feito que o valor disso custou para a prefeitura 35.000,00 mil cruzeiros, evidentemente foi gasto apenas uns [?] mil cruzeiros.

Vejamos como este agresivo está agindo.

As professoras há mais de 4 meses não recebem seus vencimentos, e na semana passada resolveram vir [?] na prefeitura receber seus vencimentos para comprar seus alimentos e de seus filhos; Pois o Sr. prefeito pediu que [?] assinacem recibos sem data, para poder assim êsse desumano fazer o que deseja, que é prejudicar essas pobres mães de família, como elas não aceitaram a sua proposta de assinar sem data, ficaram sem receber nada. O Sr. Erasmo é um comerciante praticamente falido porque deve muito, e o que o mesmo tem não dar para pagar nem aos Bancos, [?] a Sudene, etc.

É preciso ter muito cuidado, quando vir apurar esses casos, porque êsses dois homens são águias.

Só o Exército é quem pode resolver é quem pode resolver é quem tem resolvido tudo; botando esses subversivos para fora do País, e botar esses amigos do alheio na cadeia.

Espero que meu nome não seja [?] nesta repartição. Sem mais

(…)”

[Arquivo: BR DFANBSB V8.MIC,GNC.AAA.73056669]

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