“Neci no meio do mundo” encerra temporada itinerante

12/08/2023

Depois de realizadas dez apresentações itinerantes, o projeto ‘Neci no Meio do Mundo’ finaliza suas atividades hoje, sábado,12. A companhia Ortaet volta ao Sítio Barroso II na casa de dona Neci, senhora que foi a inspiração para criação da personagem Neci, interpretada pela atriz Betânia Lopes.

“Essa visita à dona Neci vai ser muito legal, porque vai ser um encontro entre as duas: a inspiração e a atriz. Vai ser uma conversa, não a apresentação especificamente, mas sim um encontro, uma conversa regada com café. Betânia vai contar a Neci como foi circular com o espetáculo, as experiências vividas nessa temporada com as apresentações em outros espaços. Assim como começou lá, o projeto também vai finalizar lá”, comentou José Filho, diretor do espetáculo.

O projeto “Neci no meio do mundo” foi contemplado no XII Edital Ceará de Incentivo às Artes 2022, na categoria Teatro. “Conseguimos circular e realizar as dez apresentações do espetáculo em comunidades rurais além aqui de Iguatu. Passamos por Suassurana, Cardoso I e Retiro; em Acopiara, fomos até Umari, Fortuna, Riacho do Mel, Na Vila São Pedro, em Jucás, Solonópole, na Vila São José, e em Quixelô, no Gaspar e no sítio Barroso II, localidade de Neci”, ressaltou o diretor agradecendo a receptividade e acolhida dessas comunidades que muitas delas pela primeira vez os moradores tiveram oportunidade de assistir a uma apresentação teatral. “Foi muito importante e significativo poder levar nossa arte às pessoas que residem na zona rural, poder encontrar com essas pessoas, trocar afetos e impressões é algo que nos atravessou de forma muito potente. Era um grande sonho do coletivo chegar a essas localidades, não só essas, muitas outras que ainda não tivemos como apresentá-las”, disse.

 

Acesso à cultura

Somado a proposta de execução do projeto foi realizado ainda workshop de quatro horas sobre o processo de criação e as temáticas discutidas na encenação (violência contra os idosos, empoderamento dos idosos, homofobia, racismo e machismo), tendo como público-alvo as idosas e idosos das comunidades assistidas, bem como aberta ao público em geral. Os moradores foram contemplados, dessa forma tiveram oportunidade de conhecimento artístico e pedagógico uma vez que vivenciaram o que é uma oficina de iniciação teatral. “Isso faz parte das ações da Companhia Ortaet: prezar pela produção/criação de processos artísticos, mas também pedagógicos sempre foi uma das bandeiras do coletivo nesses seus 24 anos de existência. A realização do projeto possibilitou, dessa forma, que o público residente nas comunidades rurais contempladas pudesse praticar a fruição da linguagem artística do teatro, democratizando, dessa forma, o acesso à cultura, assim como foi instigado nos mesmos a criticidade acerca da realidade dos idosos e as problemáticas referente às violências e desrespeito que os mesmos sofrem”, ponderou Aldenir Martins.

José Filho afirmou ainda que outro ponto relevante é a temática trabalhada pelo espetáculo: a velhice. “Em nossa sociedade, o velho é, quase sempre, associado ao passado, a algo ultrapassado, que já não tem mais valor, não funciona mais e que, de imediato, deve ser substituído ou relegado a um lugar de descarte. Que venha o novo, pois este tem mais vigor, produz mais e com eficácia. Para enfatizar essa questão, não podemos ignorar a discussão que tem ocorrido durante a pandemia do Covid-19, pois todas essas impressões que acabei de mencionar com relação aos idosos vieram à tona nesses últimos dois anos. Desse modo, à velhice, em nosso contexto, não é permitida o pleno exercício do ser e estar no mundo”.

Nesse sentido, Neci transcende a tais condicionamentos, quando a idosa vive intensamente a sua vontade de ser. Neci é o que deseja ser e explora lugares até então inusitados. “A relação que Neci estabelece com a velhice não é de aprisionamento, mas de total liberdade para experimentar as descobertas que essa etapa da vida lhe propõe, sem culpas, sem medos, sem ansiedades e sem enxergar o mundo com olhar conservador e/ou acusador. Neci transgride o status-quo operante em nossa sociedade tensionado a partir do discurso presente na encenação”, ressaltou José Filho.

Impactante

O momento é de agradecimento para a atriz Betânia Lopes e também para a própria Neci, que aos 84 anos pode ver um pouco de sua vida retratada. “Pra mim, foi um grande desafio levar esses espetáculo para zona rural, desafio no sentido de que temia como as pessoas iriam reagir ao espetáculo. Fiquei imensamente surpreendida pelo brilho no olhar do público, a forma acolhedora que receberam o espetáculo, como vinham me cumprimentar ao final do espetáculo e agradecer por termos proporcionado um momento de arte com elas e elas em suas comunidades. Enquanto atriz, foi impactante apresentar no terreiro da verdadeira Neci, não só por ser no terreiro dela, mas por estar apresentando na minha comunidade de nascimento, mas encontrar Neci e jogar com ela em cena em alguns momentos da apresentação foi algo que me marcou por toda a vida”, contou a atriz.

A verdadeira Neci, senhora de 84 anos, falou emocionada nesse momento. “Achei muito boa, Betânia, a representação que você fez no terreiro da minha casa. Todo mundo achou bom, todo mundo gostou da brincadeira e no dia que você quiser vir fazer novamente pode vir que o terreiro e a casa são seus. Volte sempre que quiser!”, disse dona Neci.

O projeto itinerante possibilitou ao coletivo levar o espetáculo para outros lugares, atingindo um público ainda maior, consolidando ainda mais a identidade de grupo junto aos seus integrantes. “O projeto se revestiu de grande relevância para cultura do estado uma vez que permitirá que uma política pública, que é o Edital das Artes, possa comtemplar e beneficiar não só a Cia Ortaet de Teatro e seus integrantes envolvidos diretamente no projeto, mas também aos moradores das dez comunidades rurais, que tiveram acesso ao teatro, permitindo ainda o fortalecimento do coletivo que já vem atuando há 24 anos na cidade de Iguatu e Região Centro-Sul”, comentou, Franciélio Silva, presidente da Associação Ortaet de Teatro, ator e produtor da companhia.

No distrito de São Pedro do Norte, em Jucás, o morador Laércio Torquato falou sobre esse momento. “Foi maravilhoso! Um momento único e de riquíssimo aprendizado. O espetáculo traz uma mescla de drama e humor e nos faz perceber a importância da autoestima, o estímulo ao autoconhecimento, à riquíssima compreensão da importância da interação entre as pessoas, e, acima de tudo, o respeito que devemos ter por cada um independente das diferenças. Ver uma senhora de 84 anos retratada em cena com tanta vivacidade e empoderamento foi um momento ímpar. Muito obrigado!”, agradeceu a oportunidade.

Parcerias

O projeto contou com o apoio do Sistema Fecomércio, através da unidade Sesc Iguatu. “Essas parcerias são importantes e fortalecem assim o diálogo entre os coletivos artísticos e as instituições que promovem a cultura local, algo que só tende a consolidar o fazer artístico e cultural, numa seara tão desprovida de políticas públicas para a cultura. Contamos ainda com o apoio das prefeituras de Quixelô e Acopiara através de suas Secretarias de Cultura, do Projeto Arte Criança, PAC e do Jornal A Praça, que sempre teve e tem espaço para divulgação não só de nossos trabalhos, mas é um grande veiculador da arte e cultura iguatuense. Obrigado!”, agradeceu José Filho, diretor do espetáculo, em nome de toda companhia.

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