Família Clares mantém tradição de engenho de cana-de-açúcar em Suassurana

19/08/2023

A produção começa ainda pela madrugada. Por volta das 3h, os operários iniciam a moagem da cana-de-açúcar. Não demora muito para a garapa descer até um grande reservatório, depois é despejada nos tachos em alta temperatura, até a retirada para o ponto de feitura do doce. A produção da rapadura passa por algumas etapas. É um processo artesanal, rico, demorado. Tradição que é mantida pela família Clares, moradores da região do distrito de Suassurana, em Iguatu.

Todo processo é acompanhando de perto por seu Chico Clares, 84. O agricultor disse que sente orgulho em ver a tradição que aprendeu com o pai dele ser tocada pelos filhos, sobrinhos, amigos. “Começou com meu pai em 1943. Ele fez o primeiro engenho e de lá pra cá nós calejamos na moagem. Quando ele faleceu, os outros abriram da moagem. Meu filho Estênio já era um rapazinho, disse que ia enfrentar. Mas depois o açude que tinha na propriedade foi embora, a gente desmanchou do outro terreno trouxemos para cá. Eu me orgulho de fazer essas moagens. Hoje está tudo diferente. Mas a gente vai fazendo”, relembrou seu Chico.

“Na época do meu avô era ainda na junta de boi. No outro terreno tinha dificuldade de água. Em 2005, a gente trouxe para cá. E desde esse tempo a gente passou a fazer a moagem aqui. Quando chega o mês de agosto, a gente começa. Tem toda essa produção”, comentou, o filho de seu Chico, Estênio Clares, agricultor, que vem levando a tradição.

Genética

Os bons registros de chuvas contribuíram para a melhor produção da safra da cana-de-açúcar. Com a produção, o engenho transforma a garapa em doces: além da rapadura. Tem o mel, batida, alfenim. A produção acontece mais aos finais de semana. Estênio e Nonato com o auxílio de outras pessoas se esforçam para manter viva a tradição da moagem. “Aqui existiam muitos engenhos, até mesmo antes que do meu avô. Antigamente tinha moagem que chegava a 90 dias direto, tinha mais de 20. Aí foi acabando. Hoje só tem dois ainda na ativa. A gente está segurando essa tradição”, disse Estênio.

“Dia de moagem é dia de rever essas coisas. A moagem está em nossa genética. A gente se criou vendo esse trabalho. Apesar de ter alcançado pouco tempo de convivência com meu avô, meu pai aprendeu e vai tocando. Se a gente vai tocando aqui, eu acredito que se fosse no tempo deles estariam com a moagem movida por carro de boi. Para meu tio Chico não é nem tanto o dinheiro da rapadura, do mel. Eu sinto no rosto dele o prazer de estar numa moagem”, comentou Nonato Clares. “Hoje está moderno e mais prático, mas ainda exige muito trabalho e disposição”, completou.

Dia de moagem é dia de festa. O cheiro da garapa cozido se espalha e é um convite para apreciar como é feito o trabalho e degustar os doces. “Não vamos deixar a tradição morrer”, concluiu Nonato Clares.

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