Sistema Agroflorestal com foco em saúde é desenvolvido na Escola de Saúde Pública

26/08/2023

Uma agrofloresta com dezenas de variedades de plantas nativas, exóticas, frutíferas, medicinais foi implantada há quase dois anos na Escola de Saúde Pública de Iguatu – ESPI, que funciona no bairro Areias, na antiga sede da UECE/FECLI.

O espaço ocupa uma área com cerca de mil metros quadrados e foi implantado pelo educador físico e pesquisador baiano Ramon Sena, que na época fazia residência clínica em Iguatu. Atualmente, mesmo fazendo mestrado em Educação Física, na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, BA, ele continua trabalhando e coordenado a agrofloresta instalada por aqui. Uma área verde que antes era estava sem ser utilizada. “Estamos discutindo espaços verdes. Então esse sistema de agrofloresta compõe um espaço verde que dentro da literatura é um dos espaços essenciais para promoção em saúde. E de maneira pioneira estamos trazendo para a rede atenção à saúde de Iguatu, de modo estratégico dentro de um equipamento de saúde, que é esse espaço. Um sistema de agrofloresta”, pontou Ramon Sena, explicando a ideia de implantar o sistema um local de fácil acesso aos usuários do sistema de saúde, quando também as ações podem ser estendidas para toda população, estudantes, entidades, órgãos que tenham interesse em ter esse contato mais próximo com a natureza.

Ainda de acordo com o profissional, é importante esse diálogo com perspectivas de promoção à saúde relacionada ao meio ambiente, com visão sempre de ter o meio ambiente como espaço de cuidado. Mas o que tem a ver Educação Física com um sistema ambiental como esses? Ramon explicou essa iniciativa pioneira. “Do ponto de vista conceitual a atividade física que é o objeto da Educação Física, conceitualmente educação física é toda e qualquer atividade produzida pela musculatura esquelética que promova um gasto calórico maior que o estado em repouso. Aí eu posso garantir que a atividade dentro de um espaço como esse nos possibilita alcançar esse conceito”, apontou, acrescentando que é importante a discussão de sistemas agroflorestais como tecnologia leve de cuidados na rede de atenção à saúde e que tem evidenciado potencialidades de ampliação da clínica no acompanhamento terapêutico em pouco tempo.

Educação agroecológica

O sistema agroflorestal da ESPI foi implantado há quase dois anos. “É o que temos observado dentro da agenda internacional das mudanças climáticas para além de todo acompanhamento terapêutico que tem sido feito aqui com usuário de sistema de saúde mental, pessoas que frequentam o CRAS, estudantes nas escolas estaduais e do município dialogando com perspectiva de educação agroecológica, que é aquilo que a agroecologia proporciona. Iniciamos em setembro de 2021, dentro do programa de residência. Esse sistema vai completar 2 anos de acolhimento, de cuidado de maneira pioneira na nossa rede de atenção à saúde”, pontuou Sena.

Ainda de acordo com ele, o sistema de agrofloresta tem alguns princípios e um deles é a biodiversidade. “Um consórcio de plantas nativas, exóticas, que possibilitem a gente iniciar essa, que a gente chama de placenta. Placenta é aquilo que acolhe, que protege, que prepara pra gente ter uma floresta. E esse acolhimento na perspectiva de uma oferta de cuidado e saúde é um acolhimento também de pessoas, de vidas de história. E a gente vai a partir disso estabelecendo uma relação de oferta de cuidados que dialogue com o processo de humanização na rede de atenção no Sistema único de Saúde. Então hoje a política de humanização no SUS nos apoia, nos guia muito nesse sentido daquilo que estamos fazendo aqui. Árvores nativas, exóticas, frutíferas e algumas outras que vão compor o extrato dessa floresta, o processo de bioestratificação. Quando a gente traz essa flora, essa vegetação, acaba atraindo a fauna. Isso é uma responsabilidade muito importante. Saúde é um conceito muito amplo. Se a gente entende saúde dentro dessa amplitude, a gente entende também que a nossa relação com o meio ambiente, com a fauna, com a flora ela deve ser percebida e defendida”, explicou, afirmando ainda que nesse tempo fez um trabalho educativo com os vizinhos em torno da área, além com as pessoas que visitam o espaço.

“O diálogo com as pessoas é fundamental”. No início da implantação da agrofloresta, houve um preparo da área, retiradas de entulhos, lixo muitas vezes jogadas pela vizinhança. “Então traçamos conversas com os vizinhos. Aqui antes era uma grande área suja, com muito lixo, entulho. Foram retiradas daqui três caçambas de entulho. Fizemos um trabalho social com eles através do diálogo. Preparamos o solo, fomos trazendo as primeiras mudas, plantas. Com o tempo, as aves e morcegos ajudaram a povoar ainda mais a área. Tem plantas que nasceram que as sementes foram trazidas por eles”, contou Ramon, mostrando satisfação no desenvolvimento da agrofloresta.

A ideia do profissional é que o Sistema Agroflorestal da Escola de Saúde Pública de Iguatu seja visto e entendido como tecnologia leve de cuidado em saúde na rede de atenção do município. Recentemente Ramon esteve presente com representantes do Poder Legislativo. “O objetivo do encontro foi apresentar iniciativas protagonizadas no âmbito do Programa de Residência Integrada em Saúde, com vistas à veiculação do cuidado em espaços verdes na promoção da saúde integral e defesa do meio ambiente equilibrado. Portanto, contempla a agenda internacional na criação de estratégias voltadas à problemática das mudanças climáticas a partir da recuperação de áreas verdes. O SAFESPI está implantado na seda Escola de Saúde Pública, e oferta ações de promoção do cuidado com base na escuta ativa, ambiência, interdisciplinaridade, e centralidade nos sujeitos, dialogando, neste sentido, com princípios da reforma sanitária”, ressaltou.

Conexão

De acordo com o ambientalista Dauyzio Silva, que também cuida de uma área agrofloresta, a iniciativa do Ramon Sena é inovação no Sistema Único de Saúde. “A gente que trabalha na área e convive nas agroflorestas sabe do bem-estar que se sente nesse ambiente. Aprendi com Ramon que isso é um “banho de floresta” e que esse sentimento é uma potente ferramenta no tratamento de saúde mental e física também. Além das práticas agroflorestais, comuns às demais agroflorestas, a filosofia e a forma como ele faz a conexão entre as plantas, animais e relações entre os diferentes componentes do sistema, com a vida e a possibilidade de vida, são surpreendentes. Essa é a primeira agrofloresta com foco na saúde, dentro de um equipamento do SUS e é uma honra ter acompanhado o processo de construção e manejo que o Ramon vem fazendo.”

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