Dona Francisca Alves da Silva, conhecida como ‘Neném’, é uma idosa de 75 anos de vida. Mora na Travessa Lourival Correia Pinho, bairro Cocobó. Diferentemente de muitos da faixa etária dela, que estão acomodados achando que tudo acabou, dona Neném foi à luta. Aperfeiçoou suas habilidades como artesã e passou a fazer bonecas de pano em casa, para complementar a renda. Ela revelou que nunca fez curso de nada, aprendeu a fazer fazendo. “Já fiz muitas bonecas, e cada uma que fazia, percebia que aprendia mais, então assim tem sido”.
As bonecas produzidas pela aposentada têm até nome de gente: Regina, Erilene, Erineide, Regilânia, Isabel, Maria Luíza, Ecineide, Zildenir, Gilmara e outros. Dona Neném explicou que se apaixonou pela arte de fazer bonecas de pano quando ainda estava estudando para aprender a ler e escrever. “Eu vi no YouTube e me interessei em voltar a fazer, porque eu já havia feito antes, mas tinha deixado de lado”. As bonecas são grandes e de tamanho médio. Ela mesma adquire com seu dinheirinho ‘minguado’ da aposentadoria os materiais para dar forma às meninas de brinquedo. Algodão cru, para enchimento da cabeça e corpo, plumante, linhas de várias cores, fios de lã para os cabelos, bico bordado para as roupas, os olhos, tinta e tecido. Para ela, cada boneca feita é como se fosse uma filha. A idosa coloca muito amor e carinho nas artes, para encantar e conquistar crianças e adultos.
Para dona Neném, fazer as bonecas é uma terapia. Ela consegue preencher o tempo livre e quase não dá tempo de ocupar a cabeça com pensamentos fúteis. As bonecas são sua diversão, lazer e entretenimento. Em cada boneca finalizada uma expressão diferente no rosto e na postura. O jeito do cabelo, olhos, o tipo de roupa, os sapatos, e a expressão facial revelam a personalidade de cada brinquedo. As bonecas são matrizes únicas, não se repetem. Quem adquire uma, já sabe que só existe aquela.
Mas as bonecas não estão sozinhas na linha de produção da senhora Neném. Com suas habilidades para tecer com linhas de crochê, ponto cruz, vagonite (um tipo de desenho com uma linha especial sobre o tecido, em alto relevo), ela faz belas peças de roupas infantis, vestidos, blusas e bolsas, tudo de verdade.
Trajetória
Durante 40 anos foi agricultora, no sítio Timbaúba, zona rural de Iguatu. Trabalhava com o pai, seu Joaquim Alves da Silva, e a mãe Luzia Maria de Jesus. Um sonho dela era estudar e aprender. Mas só teve esta chance aos 66 anos, quando começou a estudar em casa com uma professora particular, ela mesmo pagando. Depois foi estudar no Sesc, num programa de alfabetização para a terceira idade. Estudou por um ano e oito meses, só parou porque foi acometida de Chikungunya, mas reconhece que foi o tempo suficiente para dominar a leitura e a escrita.
Toda saúde, diversão e oração por uma mulher como ela são justas, para quem casou ainda muito jovem, com Raimundo Nonato da Silva, um pescador (in memoriam). Teve 13 filhos com ele, dos quais apenas 8 sobreviveram. Foi largada pelo companheiro e teve que criar os filhos sozinha. Trabalhou muito duro, sofreu barbaridade, foi discriminada, desrespeitada, passou necessidades, junto com os filhos, todos pequenos, mas não se abateu, nunca desistiu, fez das fraquezas as forças, e hoje se considera uma vitoriosa. Os filhos estão crescidos, todos adultos, profissionais e cada um responsável pelos seus caminhos. Agora, ela curte a vida, os filhos e seu melhor passatempo, num atelier improvisado em casa, faz bonecas, roupas de crochê, pesos para escorar portas, em formato de animais, revestidos por peças de crochê.
A artesã informou que as bonecas e as peças de roupas em crochê estão disponíveis para venda. Os interessados podem fazer contato com ela no endereço: Travessa Lourival Correia Pinho, bairro Cocobó.
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