As cordas da morte me envolveram,
as angústias do Sheol vieram sobre mim;
aflição e tristeza me dominaram.
Então clamei pelo nome do Senhor:
Livra-me, Senhor! O Senhor é misericordioso e justo;
o nosso Deus é compassivo. O Senhor protege os simples;
quando eu já estava sem forças, ele me salvou.
Retorne ao seu descanso, ó minha alma,
porque o Senhor tem sido bom para você!
Salmos 116:3-7
Em tempos aflição, nos encontramos derivando, sozinhos, num mar de incômodos sentimentos. A esmo, vamos para lugar algum. Alguns se agarram ao que restou da embarcação: pedaços de madeiras podres, vigas enferrujadas indo igualmente em direção nenhuma que importa.
Nesses momentos, amigo leitor, não parece haver salvação para o tripulante da vida em meio a essa tempestade…. Sim, trata-se de uma tempestade em plena desproteção do mar aberto da indiferença e do desconhecido. O preço a se pagar por ignorá-la é permanecer nela. Fingir que problemas não existem, podem até surtir um bom efeito em um curto espaço de tempo, no início. Mas depois é preciso fazer algo. É preciso nadar em busca de terra firme, se é que me entende.
Mas como sair dessa situação, sendo que não vejo qualquer horizonte? Só o que vejo e sinto é o mar de problemas e o gosto amargo no qual o sal se tornou? Há saída, mesmo quando não a vemos? Bem, amigo leitor, se FÉ é a certeza do que não se vê, uma convicção interna que vai além das evidências físicas, devemos também supor que a solução esteja, também, como a fé, para além do nosso campo de visão, que se encontra, nesse momento, prejudicado pela salinidade marítima dos problemas e a sua colossal dimensão amedrontadora.
O que quero dizer é que se faz necessário que não confiemos assim tanto na eficácia do fracasso. Por mais intransponíveis que aparentem certas ondas, marolas, há algo maior. Ironicamente, mesmo que venha encontrar-se no análogo mar que usei para exemplificar, tenha ‘‘os pés no chão’’. Essa dualidade aponta para que, sim, reconheçamos os nossos problemas, mas que tenhamos a racionalidade de controlarmos as nossas emoções negativas ante o referido problema.
Tenha fé em você, ainda que sejas um pessimista como eu. Tenha fé em Deus, ainda que sejas um alguém sem religião e sem uma exemplar espiritualidade, feito eu. Não se engane, o Senhor não está na sua dependência para que Ele o auxilie apenas se os pré-requisitos partirem de você. Não subestime o Criador. Somos demasiadamente pequenos e humanos para que compreendamos a grandeza de quem nos criou.
Em tempos de aflição, amigo leitor, é preciso tomar coragem e fôlego, se agarrar às ‘‘muletas’’ que lhe ofereçam um porto seguro, sejam elas metafísicas ou não. Deus, filhos, família em geral, amigos… Cada um tem os seus entes de valor, agarre-se a eles para sair da tormenta. Procure, também, descansar a sua alma carregada – nunca raciocinamos bem quando estamos com a mente em névoas; as coisas se confundem, silenciosamente, numa facilidade absurda.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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