Como todo ‘’outside’’ em relação às detestáveis convenções sociais, faço o que minha natureza me condiciona a fazer: isolo-me do mundo e de suas futilidades. Não creio que uma festa, seja ela qual for, possa me oferecer algo melhor do que um bom livro em uma noite de sexta-feira. O amigo leitor poderia dizer que eu estou enganado. Que uma festa poderia proporcionar sexo a quem a ela compareça. Irei discordar em certa medida.
Sempre estranhei o fracassado homem que só consegue conquistar uma mulher mediante o ambiente festivo. Quero dizer: é vergonhoso constatar que as pessoas, em busca de uma simples cópula furtiva, se submetam em andar em grupos; querem aceitação, sensação de pertencimento. E, nisso, perdem a sua identidade… se é que ainda sobrou alguma.
Não, amigo leitor. Tenho eu os meus próprios meios para preencher esta importante lacuna. Não preciso me submeter ao público. É no privado, no mundo recluso que tudo faz sentido e é mais prazeroso. Não terceirizo no ato da busca do objeto do meu desejo. Vou eu mesmo à caça, com as minhas armas, não as do bando.
Lembre-se, preclaro leitor, que caçar nem sempre significa somente correr atrás da presa, mas também ficar de tocaia, à espreita, esperando a hora certa de agir, de jogar a rede. Não confunda postura passiva com ausência de ação. Prepare a armadilha e, enquanto espera a caça ser fisgada, leia um bom livro.
O que estou tentando dizer, é que não devemos nos submeter ao ‘‘mainstream’’ social. Podemos ser quem somos, sem nos contaminar. O exemplo sexual da caça é uma alegoria para que possas melhor compreender a questão, amigo leitor. A atenção, o foco, aqui, é advertir sobre a perda da vossa identidade em virtude de pressões externas; e tais pressões podem advir de amigos, familiares e, claro, grupos.
Não se perca para agradá-los. Seja essencialmente você! É possível viver bem estando longe da massa. Viver na solidão necessária não é a mesma coisa que viver na solidão condicionada. A primeira você escolha, a segunda, não. Não há nada de errado em se bastar. Como a maioria não consegue, acabam por condenar os poucos espíritos que amam a própria companhia e solidão.
À noite, quando chego em casa, que vejo o meu gato como única agradável companhia viva além de mim, sento-me confortavelmente após abrir uma cerveja e o livro da vez, e a paz reina enquanto o mundo se perde lá fora. Quando dou por mim, já é madrugada. E a leitura continua.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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