Por Anna Lays do Carmo Brandão (Acadêmica de Arquitetura e Urbanismo da FASC)
Quem tem direito à cidade? Se a cidade pertence a todos, por que minorias são expulsas dos centros e isoladas por meio de medidas agressivas como gentrificação e arquitetura hostil? Por que ao invés de aplicar medidas desumanas o governo não se preocupa em facilitar a mobilidade urbana e garantir a segurança dela? A luta pelo bem-estar da população é desanimadora quando seus oponentes são empresário que pensam apenas em seu ganho pessoa. Eles têm poder em suas mãos e a nossa voz, mesmo no coletivo, se torna fraca em comparação com o dinheiro que move o mundo do capitalismo. Então, só nos resta assistir à desumanização das cidades e mercantilização dos centros, das pessoas e da natureza.
Segundo o historiador Iain Borden, “Somos cidadãos da república apenas na medida em que estamos trabalhando ou consumindo mercadorias diretamente”. A partir disso, podemos destacar a forma degradante que moradores de ruas e pessoas pobres são tratadas como indigentes. Mesmo sendo cidadãos da cidade, os centros urbanos não são projetados para eles, e ao observar o planejamento das metrópoles, é fácil perceber a forma de exclusão das classes mais baixas. É notório como o governo quer “limpar” a cidade e tirar de sua vista os problemas de pessoas em situação de rua e pobreza. Um dos meios que os ajuda nesse objetivo é a chamada “Arquitetura hostil”, uma ideia de projetar espaços com o propósito de diminuir a presença de certos grupos em determinados locais. Exemplos disso são bancos de paradas de ônibus ou praças com acentos divididos, impedindo o descanso de sem-teto e o uso de dispositivos que emitem sons agudos para afastar jovens de espaços públicos evitando protestos, entre outros.
Portanto, fica o questionamento: o que essas pessoas fizeram para serem tratadas assim? Por que não podem desfrutar de espaços urbanos confortáveis? Simples, elas não possuem o que os empreendedores desejam, não têm dinheiro, não são de famílias nobres e muitos não possuem nem documentos. Para o governo, eles não são considerados cidadãos e muito menos seres humanos. Portanto, muitas vezes a cidade não será para todos, mas para quem pode pagar por ela. Um dos opositores desse método de arquitetura é o padre Júlio Lancellotti, que já destruiu a marretadas “espetos” instalados no litoral de São Paulo para afastar moradores de ruas. O sacerdote ainda acrescentou em suas redes sociais que associa essas medidas como uma forma de aporofobia, termo que significa medo e desprezo aos pobres. Além disso, uma matéria do G1 mostra que a câmara aprovou a lei Júlio Lancelotti, que proíbe “arquitetura hostil” em espaços públicos.
Outra forma de apagamento da classe baixa é a gentrificação, termo que surgiu na Inglaterra pela socióloga Ruth Glass em 1964. Ao se traduzir esse termo para o português seria como um aburguesamento dos centros das cidades. Esse processo faz com que moradores tenham que sair de suas casas para dar espaço para prédios de luxos e outros prédios de interesse privado aumentando a desigualdade social e contribuindo para o processo de favelização. Esse processo também é desumano, uma vez que o governo considera a revitalização urbana como uma desculpa para substituir pessoas de baixa renda por pessoas com mais poder aquisitivo, entretanto o espaço deve ser revitalizado sem expulsar a população local.
Entretanto, muitas pessoas ainda acreditam que ao aumentar o número de prédios, as oportunidades de emprego crescerão. No entanto, percebemos que essas vagas serão mais acessíveis às pessoas que residem próximo ao centro, devido à precária situação do transporte público e o congestionamento de tráfego que dificulta a locomoção na cidade. Muitas empresas preferem contratar colaboradores que possuam veículo próprio, a fim de evitar problemas de atrasos, como revelado em uma pesquisa realizada pelo site Diário do Transporte, que apontou que 59% dos trabalhadores utilizam carro particular, enquanto apenas 36% recorrem ao transporte público.
Dessa forma, percebemos que os desafios relacionados aos nossos direitos na cidade são variados, abrangendo desde a imigração forçada até a exclusão social e o descaso com o planejamento de espaços públicos. É fundamental compreender que a cidade também é o nosso lar, onde construímos memórias e conexões com outros indivíduos. Ela deve ser planejada com o objetivo de aprimorar as experiências sensoriais e tornar-se acessível a todos. Pessoas de baixa renda, sem-teto e com deficiências também merecem e devem encontrar seu lugar na cidade.
O interesse pessoal deve ser deixado de lado em prol da empatia, que deve ser um valor importante na moral e ética dos representantes que elegemos para governar nossa cidade. É nosso dever exigir políticas públicas que melhorem a qualidade de vida na metrópole e protejam tanto a vida quanto o meio ambiente local. Tais medidas não devem ser implementadas apenas em épocas eleitorais ou quando os problemas se tornam tão evidentes devido à negligência que não podem mais ser ignorados.
Em conclusão, é necessário que se tomem medidas para impedir processos como a gentrificação e a implementação de arquitetura hostil, visando a mobilidade urbana nas cidades. Essa responsabilidade recai sobre o governo, que deve criar políticas e projetos que evitem os problemas mencionados. Além disso, é fundamental conscientizar a população sobre seus direitos na cidade. É hora de agir e trabalhar juntos para criar cidades mais justas, inclusivas e acolhedoras para todos.
*Texto produzido na disciplina Leitura e Produção Textual ministrada pelo professor José Roberto Duarte
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