Eis que chega o Natal!
Como o simbolismo da data propõe, obra do talvez ou do quem sabe, como que por milagre ou passe de mágica, assim, de repente, nossos corações tornam-se mais delicados, sensíveis às boas coisas da vida – e aos bons sentimentos para com o real sentido de nossa existência.
Os olhos, por tantas vezes incapazes de enxergar o outro, parecem desanuviados, e finalmente veem…
Veem que somos todos iguais, e de que nada valem, em dimensão verdadeira, as diferenças que nos separam. Dinheiro, Poder, Luxo… De nada valem, insisto, em dimensão verdadeira!
Ali, entregue à própria sorte, pode-se ver um homem desvalido, uma mulher sem nada para dar de comer ao filho, uma criança que suplica por um resto de comida: o pedaço do sanduíche, um pouco do sorvete, um copo do refrigerante. Quem sabe um brinquedo… um chinelo, uma camisa, um calção…
Mas nossos olhos, disse o poeta, são pequenos para ver!
Eles estão por toda parte: nos sinais da esquina, nos bancos de praça, nas ruas, nas favelas… E não tivemos olhos para ver!
Mas eis que chega o Natal, e com ele uma nova chance de repensar nossas vidas, de abrir os braços para os que, sendo nossos irmãos, carecem tanto da nossa atenção. E lhes negamos, por comodidade ou perversa indiferença… lhes negamos!
E pensar que é tão pouco o que pedem, tão pequeno o pedaço de pão, o prato de comida com que se pode matar a fome alheia – ou a manifestação de carinho para aliviar a dor de alguém. A ajuda para o remédio com que se pode tratar a doença… tão pouco… a roupa decente que cobrirá o corpo quase nu! É tão pouco!
Mas foi preciso que chegasse o Natal para fazer cair a ficha, e nos fazer voltar a ver para além dos muros de nossa casa e do nosso egoísmo!
E, no entanto, o Natal “é sempre!” Ontem e agora, assim como será no amanhã!
É Natal quando nos tornamos capazes de sentir o sofrimento alheio e não medir esforços para amenizá-lo. É Natal quando nos indignamos com a injustiça, a exploração, o domínio de um sobre o outro. É Natal quando estendemos a mão a quem precisa de nossa ajuda, quando pagamos o salário digno a quem nos serve, quando repartimos, quando “dividimos”… É Natal quando “diminuímos” a miséria alheia na proporção de nossas possibilidades… Quando nos “somamos” a quem está sozinho e já perdeu a esperança!
É Natal, enfim, quando “multiplicamos”, não os bens materiais, mas os bons sentimentos dentro de nós, a semente da solidariedade, o amor ao próximo, a crença de que é possível um mundo menos desigual e mais humano, mais livre, mais fraterno, em sua dimensão maior e mais profunda!
É Natal quando aplacamos o ódio! Quando perdoamos!
Eis que chega o Natal! Aquele que é, em sua essência, menos festa e mais fraternidade; menos luzes de decoração e mais compreensão; menos enfeites na parede, menos avelãs e figos, frutas e doces cristalizados à mesa…
Pois que é Natal, verdadeiramente, quando nos alimentamos de amor no coração!
Que, neste Natal, possamos de uma vez por todas, com utopia ou sem ela, compreender o que realmente importa, muito para além das árvores enevoadas artificialmente, das luzes piscantes, das bolinhas coloridas a nos encher os olhos – das crianças e dos homens… Muito mais que a roupa cara, o sapato novo, a joia rara…
É Natal!
Nasce um menino! O mais pobre, o mais simples! Nasce o Menino-Jesus!
E sua morada, um dia, que não sabemos quando, haverá de ser o coração do homem!
P.S. Aos leitores e leitoras, gratidão! E votos de boas-festas!
Álder Teixeira é Mestre em literatura Brasileira e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais
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