Bem se via que o casalzinho não iria muito longe. O rapaz, um típico conservador – desses que sabem bem o valor do trabalho, da ordem e da moral cristã; a garota, uma doidivanas – dessas que tomam a dimensão do mundo baseada no quintalzinho fétido de um cursinho doutrinador de humanas qualquer; que se acha o máximo e do bem por ‘‘lutar por um mundo melhor e igualitário’’. A pobre e débil garota sentiu-se agredida quando censurada quanto aos seus argumentos ‘‘problematizadores’’, e, nisso, já na primeira oportunidade, chamou o namorado de ‘‘fascista’’.
De fora e longe (o que nos permite enxergar melhor do que os envolvidos), e por ser amigo do rapaz, resolvi fazer uma pequena análise pesquisada. Comecei por ver a escrita de ambos. Nas redes sociais, pude constatar o óbvio ululante: a menina, que se enxerga uma culta leitora, não passava de mais uma analfabeta funcional sem conhecimento do seu próprio analfabetismo. Postara frases batidas de Karl Marx, Leandro Karnal e outros ‘‘grandes autores’’. A risível criatura acredita em signos (sim, coisa mais patética, não há); e atribui a isso o seu, como ela mesma escrevera: ‘‘espirito forte e combativo’’ (confesso que ri muito quando li isso em sua linha do tempo).
O rapa era inteligente. Escrita impecável e fino leitor de grandes conservadores. Não lia autoajuda nem perdia tempo em ‘‘salvar o mundo’’, mas em preservar valores norteadores de uma sociedade sadia e livre de utopias que, quando testadas, fracassaram miseravelmente. Crê na disciplina e condena a balburdia de mequetrefes de toda sorte. Temente a Deus, recusava qualquer dogma revolucionário ao seu redor.
‘‘O maior desafio para um jovem estudante liberal no Brasil é pegar mulher’’ – escreveu o filósofo Pondé na sua crônica ‘‘Por uma direita festiva’’, em 2014. Assim sendo, no revés disso constatamos que o discurso esquerdista é ótimo pra pegar mulher. Comecei a desconfiar que o jovem rapaz estivesse fazendo um tipo esquerdinha para conquistar a bela (porém fútil) garota. A questão é simples: homens sensíveis e preocupados com as causas humanitárias são pessoas maleáveis, dóceis (para não dizer ‘‘manés’’, ‘’babacas’’…) e títeres nas mãos dessa gente rasa. Fazer esse tipo é garantir sexo como recompensa pela bela atuação enganadora.
‘‘Anda, macho!!! Confessa que tu tá só ‘queixando’ a menina! – Interroguei-o. Ele se fez de desentendido, mas confessou que sim. Que vivemos tempos difíceis. Que as mulheres de direita, desejáveis como só elas, já foram todas conquistadas, e a patética espécime que sobrou é tudo de que dispõe para uma cópula furtiva vergonhosa. ‘‘Olha, cara… Mulher de verdade gosta de homem de verdade; não de um híbrido, de um esquema mal-acabado de um, de uma simbiose anômala. ‘‘Hoje, nessa perda de tempo, engano garotas como essa, amanhã, quiçá, encontro uma mulher de verdade. Também mereço!’’ – desabafou.
Tempos depois, o vi reluzente e de mãos dadas com uma jovem conservadora de direita (que era a causa do seu brilho no olhar). Por fim, estava salvo! Resolvi olhar pela última vez as redes sociais do insólito casal de outrora, quando o rapaz unia-se àquela estranha criatura tapada. No dele, nada de imprevisível: bons textos coesos e a novidade da alteração de relacionamentos para: ‘‘em um relacionamento sério com…’’. No da revolucionária, apenas uma postagem: ‘‘Homem não ‘prestaaaaa!’. ‘Mim’ sentindo revoltada!’’ (sic). Que perda de tempo, senhores… que perda de tempo!
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
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