Desde as primitivas ocorrências do Sermo vulgaris (latim vulgar), já havia certa incerteza eivada de erro sobre o uso do dativo e do ablativo. Nominativo e acusativo permaneceram sempre fortes, imunes à perda estilística daqueles férreos tempos. Mas a decadente estrutura analítica da língua vulgar, com o pesado excesso de preposições, confundia a relação de complemento verbal indireto com a de circunstância imposta ao verbo.
As marcas dessa incômoda sinuosidade na norma chegaram ao vernáculo. Verbi gratia: a palavra “alerta”. A taxionomia deste étimo é contundente e divide opiniões dos gramáticos. Numa certa frase, se nos ativermos à modificação da semântica verbal, alerta será advérbio e deverá permanecer invariável. Por outro lado, se nos ativermos à modificação adjetiva predicativa ou do substantivo, alerta será adjetivo e deverá sofrer variação de número.
A maioria dos gramáticos (Bechara, Saconi, Ernani Terra, Nicola, Faraco e Moura, Sousa e Silva, Vitório Bergo et multi ali) afirmam ser advérbio a palavra alerta. No entanto, o gramaticus gramaticorum Napoleão Mendes de Almeida, com todo o peso de sua auctoritas, diz ser adjetivo em certas situações. “Eles estavam alertas” (exemplo colhido de sua Gramática Metódica, página 319).
Não é uma questão de semântica. Calem-se logo os impertinentes e estultos linguistas. Na supracitada frase deu-se o olhar para a modificação do sujeito, sendo então predicativo deste, e adjetivo, a palavra em análise. Entretanto, se na mesma estrutura olharmos para a modificação verbal, teremos o modo, a maneira como o caso ocorreu. Embora deva-se dizer que o verbo é neutro, meramente relacional. Assim mesmo ainda pode sofrer modificação de aspecto.
Et nunc, quo vadis? E agora, para onde vais? Como resolver isto? Com a única e nobre saída: mater sermo. A língua mãe, o Latim. Essa idiossincrasia que estamos a discutir é fruto do pesado e analítico estilo oriundo do latim vulgar. Vício herdado dele. Pobreza estilística que chegou às filhas vindas da nobre mãe. O áureo latim de Cícero resolveria de modo simples estes enunciados. Para “nós somos alertas”, a versão seria: vigilantes sumus; como se vê, tomando “alerta” como adjetivo. Para a ideia adverbial teríamos: vigilanter sumus. “estamos em vigília ou de vigia”. O clássico é sempre preciso, escorreito.
O problema há de sempre restar na “filha”, no vernáculo oriundo da vulgar língua. A palavra “alerta” provém do particípio, via supino, do verbo erigo-is-exi-ectum-ere (erguer, levantar).No decurso do sermo vulgaris ligou-se à preposição latina ad (para, junto de) : ad+erectum, erectA.Da forma Erecta (vide metaplasmos presentes no caso) hegou à alerta. O sentido vernacular ainda guarda algo do original clássico. Manter-se em pé, manter-se alerta.
Estar alerta, leitor, estar alerta! Ficar em riste é muito importante na vida!
Professor Doutor Everton Alencar
Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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