Após o depoimento da testemunha, e com a chegada do investigador Ronald Silveira – enviado especial, recomendado pelo presidente -, a polícia passou a investigar o caso com maior afinco. O Serviço de Inteligência da capital também se fez presente na cidade.
Após alguns dias, o investigador Ronald, experiente e famoso por desvendar casos famosos em território nacional, reuniu uma interessante hipótese que ligava as vítimas. Vamos à sua teoria.
Primeiramente, o investigador correlacionou geograficamente a morada de cada uma das vítimas, pois tinha uma suspeita de que o crime tinha alguma ligação religiosa, posto que a vestimenta do assassino, segundo a descrição da testemunha, lembrava a vestimenta de alguma entidade religiosa; e que não fazia sentido, naquele calor escaldante de verão, alguém vestir-se daquela forma, mesmo que para não ser identificado.
Dona Isaura, a primeira vítima, morava a Leste da cidade; dona Cremilda, a Oeste; dona Anunciação, ao Norte. Consultando o mapa, Ronald percebeu que as localizações eram perfeitamente simétricas, e que, se uma quarta vítima fosse confirmada bem ao sul da cidade, formaria, assim, uma cruz perfeita. E sabemos que uma cruz representa bem um símbolo do cristianismo. O que, aparentemente, reforçava as suspeitas de um crime movido por algum psicopata religioso.
Outro fato lhe chamou a atenção: nenhuma das vítimas era casada ou viúva, mas todas já tiveram companheiros, mas casamento religioso ou civil, não. No cristianismo, isso não é bem-visto, sabemos. O investigador, então, acendeu a luz de alerta para este importante detalhe. No caso, para o investigador, as vítimas estavam sendo punidas pelo mau-passo – na ótica do assassino – do passado, que seja, o de terem tido relacionamentos sem a ‘‘bênção de Deus e dos homens’.
Simetricamente, a casa que complementava e finalizava a cruz dos assassinatos, segundo os cálculos da corporação, era a casa da senhora Maria das Dores, uma mulher que atendia perfeitamente aos requisitos do assassino: solteira de nascimento, mas com um histórico de relacionamentos anteriores. Ignorando o fato de um assassinato por mês, a polícia achou por bem, desde já, fazer uma campana sigilosa nas proximidades da referida residência.
Não podiam cogitar perder, um dia sequer, a possibilidade de prender o assassino, posto que, com a notoriedade do caso, o psicopata poderia considerar adiantar o crime antes da chegada do mês de novembro.
Cauby Fernandes é contista, cronista, desenhista e acadêmico de História
0 comentários