Plumbea tempora vivimus! Vivemos tempos de chumbo! Quando ouço um completo néscio – inclusive na Academia – asnear à larga: “A língua portuguesa do Brasil “, “estudemos o idioma no estado atual”, “literatura de cordel é literatura”, literatura de gênero, alterações bastardas nos sagrados pronomes e outras torpes mutações sem qualquer abono gramatical ou filológico, recordo, para salutar refrigério anímico, testemunhos dos mestres do passado, os normativos e verdadeiros gramáticos. Tomemos alguns exemplos das sábias lições sobre a língua portuguesa.
Rui Barbosa (1849-1923): “Na vergonhosa metamorfose por que está passando o português entre nós.” “O dialeto brasileiro: todas as mazelas e corruptelas do idioma que nossos pais nos herdaram cabem na indulgência plenária dessa forma de relaxação e do desprezo da gramática e do gosto.”
A palavra autorizada do insigne parnasiano da prosa reprova veementemente a ridícula ideia de um “português do Brasil”. A língua e norma vernácula são lusas por direito e devoção. Devemos respeitá-las, cultivá-las e nunca agredi-las com reprováveis e sempre injustificáveis alterações. Sobremaneira por ideológicos e pífios motivos.
- João Ribeiro (1860-1934): A juventude não ama os clássicos porque não tem consciência do ridículo. (…) Nada mais velho que a moda, nada mais fácil que a originalidade das desobediências. (…) Mas vencida essa crise de crescimento, se não se quer ser infante a vida toda, não há outro endereço mais que o do amor e respeito aos modelos eternos da linguagem.
João Ribeiro foi um dos mais eminentes gramáticos normativos que tivemos. Recomenda-nos nesta bela passagem a segura permanência com os clássicos do vernáculo. Sempre foi, é e será uma inegável verdade, maxima veritas, que estar atento a modismos, facilitações estilísticas, desrespeitos ao cânon da língua é seguro sinal de ignorância, superficialidade e completa fatuidade de espírito.
- Machado de Assis (1839-1908): Não me parece aceitável a opinião que admite todas as alterações da linguagem, ainda aquelas que destroem as leis da sintaxe e a essencial pureza do idioma. A influência popular tem um limite.
O nosso ápice das Letras não poderia defender algo diferente. Machado foi o nosso clássico par excellence. Em sua obra sempre rejeitou as rupturas detestáveis contra a tradição e a vernaculidade. A oralidade, afirmamos nós, é o Anticânon! Magna inimica linguae! A maior inimiga da língua. Zelemos pelo único e verdadeiro idioma português, o de Camões!
Professor Doutor Everton Alencar Professor de Latim da Universidade Estadual do Ceará (UECE-FECLI)
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