Desde que cheguei a Iguatu, nos idos de 2011, já vi vários protestos e “debates” sobre qualquer trivialidade, mas nunca, nunca, repito: Nunca vi sequer uma observaçãozinha sobre um fato escabroso: Essa cidade não possui uma livraria. Havia duas livrarias voltadas para o público evangélico. Ambas fecharam há tempos. Nenhuma outra está funcionando, que eu saiba.
Há um sebo. E mesmo assim quase ninguém sabe de sua existência. E se, como dizem os cronistas, pode-se saber muito acerca da ética de um povo ao observar o que fazem com seu lixo (sem ironias aqui, juro); ou se, como dizem os sucateiros, há como medir a situação econômica de uma nação pelas embalagens que são jogadas no lixo, é possível, sim, medir o nível cultural de uma cidade pela falta de livros, ou por outra, a falta de interesse livresco que ela possui.
Daí o espanto geral quando afirmo que não vou a festas ou coisa que o valha. Mas o espanto, a bem da verdade, é sempre meu: como alguém ainda perde tempo indo a festas? E, sim, leitor, estou generalizando: não importa o gênero musical. Do Funk ao Rock, do Pagode ao Sertanejo, sair de casa é um tormento. E as razões são várias. A primeira razão é pessoal, tem a ver com meu temperamento. A segunda, como veremos, é cultural.
Entendo cultura como “cultivo”, que é a raiz da palavra, sua etimologia. O que se poderia, pergunto eu, cultivar em meio a sons estridentes, falatórios inúteis, e uma total falta de tato por parte dos que frequentam tais ambientes? Quais as pessoas com uma consciência ampliada, uma acuidade visceral sobre os eventos vigentes encontraríamos nesses lugares?
Respondo: zero pessoas.
A não ser que, por um milagre, alguém tal qual descrito acima resolvesse estar exatamente naquela mesma hora, mesmo local e mesma mesa, para fazer referência ao clássico filme Casa Blanca.
E não pensem vocês que nas faculdades a coisa muda de figura. Muito pelo contrário. Segundo pesquisas, cinquenta por cento dos estudantes universitários são analfabetos funcionais. Eu mesmo já vi os suspiros dos “estudantes” quando são instigados a ler.
E os professores… são máquinas, raras exceções honrosas, de repetição de clichês acadêmicos, notadamente marxistas. Sei que estou a abusar das perguntas retóricas, mas vai mais uma: como se pode travar uma amizade intelectual ou mesmo uma troca de ideias em ambientes assim?
Estou ciente: o que ora descrevo tornou-se endêmico no Brasil. Mas sigo a máxima aplicada a Machado de Assis: quanto mais local ele foi, mais universal tornou-se. Escrevo a partir do chão que piso. Talvez escrevo até contra a esperança: no liame entre a descrença total e a fé tênue de que possa ser ouvido/ lido. E, quem sabe? Entendido. Seria como colher uma flor de lótus num universo lamacento.
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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