Aquela coisa louca que fazíamos. Aquela coisa de virar madrugadas com a orelha no telefone, acariciando apenas as palavras e um sorriso imaginário, sem ver o tempo passar. De acordar e mandar mensagem para saber como foi o sono.
Aquela coisa louca que fazíamos ao ir à praça, escolher um banco discreto e passar horas de papo; escolhendo a dedo a carícia certa, o roçar dos dedos, o movimento dos lábios.
” Graças a Deus,! o beijo combinou”
Aquela coisa de pedir para o outro mandar mensagem quando chegasse em casa, para que a gente soubesse que estava tudo bem.
Aquela coisa louca que fazíamos ao bisbilhotar na biblioteca: fingindo que estávamos estudando.
Aquela coisa de trocar livros e se passar por personagens. Aquela coisa de confessar que não sabia direito o que estava fazendo, sentindo, pensando.
Aquela coisa louca que fazíamos ao ter medo de dar o primeiro passo, de tirar a primeira peça de roupa, de dizer o primeiro “eu te amo”, e comprometendo ao infinito.
Aquela coisa louca que fazíamos ao ter ciúmes e fechar a cara, e ser infantil à beça. E passar dias inteiros intrigados para, depois, voltar errando mais e dizendo que sentimos falta até das brigas.
Aquela coisa louca que fazíamos ao dar o primeiro passo: ao ligar, xavecar, escrever bilhetes e mandar por um amigo; ou pedir para o dito amigo “ajeitar” a garota – como se ajeitava alguém?
Aquela coisa louca de fazer indiscrição em público, na carona do carro dos amigos, numa volúpia que não esperava chegar.
Aquela coisa de chegar no horário e sair só depois do horário. Aquela coisa de tapear os pais e familiares para dar uns amassos em cômodos vários da casa …
Aquela coisa louca que fazíamos em mandar e-mail, fazer declaração no finado Orkut, sem medo do ridículo ante os amigos etc.
Aquela coisa louca que fazíamos quando, já separados, e já bêbados, ligávamos e dizíamos as verdades eternas que nunca tivemos coragem de dizer sóbrios.
Aquela coisa louca que fazíamos quando tínhamos diários e neles escrevíamos: “sinto isso ainda. Assim, assim “deixando o registro, talvez inconscientemente, para que a outra pessoa nos apanhasse em flagrante…
Aquela coisa louca que fazíamos. Aquela coisa louca que não fazemos mais. Não finja, você também sabe: aquela coisa…
Marcos Alexandre: Pai de Edgar, leitor, Professor de literatura e redação, cinéfilo e aspirante a escritor.
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